Especialistas estão apreensivos com a grande rotatividade nos grupos de voluntariado. Estatísticas dos centros revelam que entre 50% e 60% das pessoas que se dispõem a atuar em uma entidade abandonam o trabalho antes do tempo previsto. "É o maior problema que enfrentamos", analisa o professor Luciano Prates Junqueira, coordenador do 1º Congresso Brasileiro do Voluntariado. O evento, que começou nesta segunda-feira e vai até quarta, é promovido pelo Núcleo de Estudos de Administração do Terceiro Setor da PUC de São Paulo. O encontro pretende fazer um balanço das iniciativas existentes e formulará propostas para consolidar o voluntariado no País. Calcula-se que 22,6 milhões de brasileiros (13,3% da população) realizam algum tipo de ação voluntária. "Muitas vezes, a entidade não está preparada para receber o voluntário, que acaba desestimulado", diz a consultora e professora Ana Maria Domeneghetti. Ela observa, porém, uma mudança nas entidades, que, cada vez mais, estão se organizando e criando estruturas para receber voluntários. Além de organizar melhor a estrutura, a mentalidade do trabalho dos voluntários no Brasil passa por uma grande mudança: no passado, as pessoas engajavam-se pelo desejo de fazer caridade, mas hoje os voluntários se preocupam em desenvolver o sentido de cidadania e estimular a autonomia dos atendidos, bem como em interferir nas políticas públicas. A avaliação foi feita pela primeira-dama Ruth Cardoso, que participou da abertura do evento. "O voluntariado no Brasil não nasceu agora. Há uma experiência histórica significativa que deve ser valorizada. Mas as sociedades mudam e ele passou a ter outra conotação", diz. "A mudança decorre da democratização do País." Ao mesmo tempo, Ruth acredita que o fortalecimento do voluntariado repercute de modo positivo na organização da sociedade civil.
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