Telegram de volta: Justiça suspende decisão que bloqueou aplicativo

No entendimento do desembargador Flávio Lucas, a suspensão completa do serviço afeta a liberdade de comunicação de milhares de pessoas; multa diária de R$ 1 milhão está mantida

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Foto do author João Ker
Atualização:

O desembargador federal Flávio Lucas, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, suspendeu parcialmente a liminar dada na quarta-feira, 26, que determinava a suspensão temporária do Telegram no Brasil. A nova decisão foi publicada neste sábado, 29, e manteve a multa diária inicial no valor de R$ 1 milhão.

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O Telegram foi suspenso depois de não entregar à Polícia Federal informações de usuários ligados à disseminação de conteúdos neonazistas na plataforma e envolvidos no ataque em uma escola de Aracruz (ES), no ano passado. Desde os atentados que ocorreram neste ano, em São Paulo e Blumenau (SC), o Ministério da Justiça tem pressionado as plataformas a frearem a circulação de discursos de ódio para evitar novos episódios de violência.

No entendimento do desembargador, a ordem de suspensão completa do serviço “não guarda razoabilidade, considerando a afetação ampla em todo território nacional da liberdade de comunicação de milhares de pessoas absolutamente estranhas aos fatos sob apuração”.

Telegram foi bloqueado no País por determinação do ministro Alexandre de Moraes a pedido da PF dia 18. Foto: Divulgação/Telegram

A multa diária de R$ 1 milhão, que havia sido determinada em 1ª, instância, será cobrada enquanto o aplicativo não entregar os dados “de todos os usuários” do canal “Movimento Anti-Semita Brasileiro” e do chat Frente Anti-Semita”, este último com o nome grifado entre duas suásticas na plataforma.

“Há agrupamentos lá denominados Frente Anti-Semita, Movimento Anti-Semita, atuando nessas redes. E nós sabemos que isso está na base da violência contra nossas crianças e nossos adolescentes”, disse o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, durante agenda em Fortaleza com jornalistas.

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No despacho que suspendeu a plataforma na última quinta, o juiz Wellington Lopes da Silva aponta que o Telegram forneceu somente os dados do administrador de um dos grupos e usou, ainda, uma “alegação genérica” de que eles já tinham sido excluídos do aplicativo há mais de seis meses. O magistrado ainda frisou o “propósito do Telegram de não cooperar com a investigação em curso”.

O Telegram reagiu à suspensão. Pavel Durov, cofundador do aplicativo, usou o seu canal na plataforma na última quinta para se manifestar sobre a decisão da justiça brasileira. “No Brasil, um tribunal solicitou dados que são tecnologicamente impossíveis de obter. Estamos recorrendo da decisão e aguardando a resolução final. Não importa o custo, defenderemos nossos usuários no Brasil e seu direito à comunicação privada”, afirmou.

Caso

No dia 19 de abril, a Justiça Federal do Espírito Santo aceitou um pedido feito pela Policia Federal para que a plataforma apresentasse informações de grupos extremistas investigados e suspeitos de estarem envolvidos em um ataque a uma escola em Aracruz, no final de 2022.

No dia seguinte, 20, o Telegram chegou a confirmar o recebimento da notificação, mas enviou apenas parte das informações solicitadas pela PF no dia 21. Pelo relatório judicial, a empresa apresentou os dados do administrador de um grupo neonazista, e argumentou que o canal já tinha sido deletado quando a plataforma recebeu a ordem judicial no dia 20 - afirmação que a PF contesta.

No dia 25 de abril, a multa diária da plataforma por descumprir a ordem judicial e não colaborar com as investigações aumentou de R$ 100 mil para R$ 1 milhão. Na última quarta, a Justiça suspendeu o funcionamento do Telegram, que conseguiu liminar para voltar a operar neste sábado, 29. A multa de R$ 1 milhão segue mantida.

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Desde o ataque a uma creche de Blumenau, em Santa Catarina, que terminou com a morte de quatro crianças no último dia 5, o Ministério da Justiça e Segurança Pública exige maior transparência das redes sociais e cobra das empresas o monitoramento de conteúdos hostis e extremistas que são publicados em suas plataformas.

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