GOIÂNIA - Um adolescente de 14 anos matou a tiros dois colegas e feriu outros quatro em uma sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia, na manhã desta sexta-feira, 20. Filho de policiais militares, ele usou a arma da mãe, que havia levado à escola particular escondida na mochila. Segundo a Polícia Civil, o rapaz sofria bullying e o crime foi premeditado.
+++ Crime em escola de Goiânia foi inspirado em Columbine e Realengo
O jovem realizou os disparos dentro da classe, em um intervalo entre aulas, e foi imobilizado por uma coordenadora e por colegas quando tentava recarregar a arma. Um dos mortos, com um tiro na cabeça, foi um suposto desafeto do garoto, identificado como João Pedro Calembo, de 13 anos. Depois, segundo relato do próprio atirador à polícia, ele perdeu o controle e sentiu vontade de matar mais, atingindo outros colegas.
+++ 'Ele mirou em mim, mas não conseguiu', diz colega de suspeito do ataque em Goiânia
Também morreu com um tiro na cabeça João Vitor Gomes, de 13 anos, considerado amigo do autor dos disparos, segundo colegas ouvidos pelo Estado. João Pedro e João Vitor morreram ainda na sala de aula.
Teve um dia que ele virou para trás e falou que ia matar os meus pais. Foi do nada.
aluna do Colégio Goyases, colega do autor dos disparos
Ainda ficaram feridos quatro adolescentes - três meninos e uma menina, com idades entre 13 e 14 anos. Uma das vítimas, atingida nas costas, foi levada pelo próprio pai ao hospital. Nenhum dos feridos tem previsão de alta e, na noite desta sexta-feira, o estado de saúde de uma das meninas era considerado grave.
Ao ser imobilizado, o garoto ameaçou se matar, apontando a pistola .40 para a cabeça. Após ser convencido pela coordenadora, ele travou a arma e pediu que chamassem a polícia. A turma, de 8.º ano do ensino fundamental, tem 30 estudantes.
No início, os alunos não perceberam que eram disparos de uma pistola. “Como teria mostra científica amanhã, pensamos que tinha sido um dos projetos que tinha estourado, ou alguma bombinha. Na hora em que vimos a arma, saímos correndo”, relatou uma aluna, que estava no local.
“Vi que ele estava com a mão na mochila. Aí ele levantou o revólver, apontou pra mim e aí eu já vi ele atirar no João Pedro”, afirmou outra aluna, de 13 anos.
“Pensei que estivesse vindo do lado de fora (da sala de aula). Até me virei, mas não encontrei nada. Umas das colegas saiu correndo em minha direção, ensanguentada”, contou uma terceira estudante. A reportagem não identifica as testemunhas por serem menores de idade.
Havia buracos de tiros, de acordo com informações da Polícia Civil, pelas paredes e manchas de sangue desde o terceiro andar, onde ficava a sala em que aconteceu o tiroteio, até o térreo. A perícia identificou, preliminarmente, pelo menos 11 cápsulas de balas.
Segundo relatos, o atirador era alvo de provocações de colegas e tinha comportamento estranho. Ele foi apreendido e levado à Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais, onde ainda estava na noite desta sexta-feira.
Investigação
A Polícia Militar goiana vai instaurar um procedimento administrativo para apurar as circunstâncias em que o jovem conseguiu a arma. De acordo com o tenente-coronel Marcelo Granja, porta-voz da PM, a arma usada é da corporação e estava sob a guarda da mãe do garoto.
Ela é sargento da PM, e o pai, oficial da corporação. Os dois foram convocados para dar esclarecimentos. O procedimento é para investigar se houve algum tipo descuido em relação à guarda da arma. “Todas as orientações são para guardar a arma em casa em local seguro e longe do alcance de crianças e adolescentes”, disse Granja.
Paralelamente ao procedimento da PM, a Polícia Civil também está colhendo os depoimentos sobre o caso para apresentar um relatório. Em seguida, o Ministério Público Estadual deverá pedir as providências que julgar necessárias.
Pelo Twitter, o presidente Michel Temer se disse “consternado” com a tragédia. O governo de Goiás decretou três dias de luto e prometeu assistência às famílias dos mortos e feridos.
Vigília
À tarde, uma faixa com os dizeres “Família Goyases em luto” foi fixada na porta de entrada do colégio. À noite, grupos colocaram velas em frente à escola, como homenagem às vítimas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.