‘Tragédia para toda a cidade’: Cambé, no Paraná, vela vítimas de ataque a escola

Salão paroquial da cidade fica lotado para despedida de estudantes mortos em ataque. ‘Eram um exemplo’, relembram amigos

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Por Guilherme Batista
Atualização:

Dezenas de moradores de Cambé, no norte do Paraná, lotaram a fachada do salão paroquial da Igreja Matriz da cidade, no início da tarde desta terça-feira, 20, para a despedida da adolescente Karoline Alves Verri, de 17 anos, morta durante um ataque à Escola Estadual Helena Kolody na manhã de segunda-feira, 19. Uma fila foi formada na frente do espaço, onde o corpo da jovem está sendo velado desde a madrugada. O sepultamento está previsto para as 17h.

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A aposentada Fátima Favaro era uma das que esperavam na fila pela despedida. “Sempre a vi de longe na igreja. É uma tragédia para toda a cidade, mas principalmente para os pais, que nunca vão superar”, diz.

Karoline era namorada de Luan Augusto, de 16 anos, que também foi baleado no atentado. Ele chegou a ser socorrido com vida para o Hospital Universitário (HU) de Londrina, mas acabou morrendo na madrugada desta terça. A família queria um velório conjunto do casal. “Eles não eram dois, eram um”, afirma o avô do rapaz, Valdomiro Augusto da Silva.

Apesar do desejo, não haverá tempo hábil para que os jovens sejam velados ao mesmo tempo. Como houve a doação das córneas do adolescente, o preparo do corpo foi mais demorado, e a previsão é que o velório do rapaz tenha início apenas às 19h desta terça.

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Um adolescente de 16 anos que era amigo do casal e estava na escola no momento do ataque relatou o que viu. “Ouvi os tiros e consegui me trancar na sala. Infelizmente eles não tiveram a mesma sorte”, conta.

O adolescente conhecia Karoline e Luan do grupo de oração da igreja e, presente no velório da adolescente, diz que “eles nunca vão ser esquecidos”. “Trabalhavam ajudando os pobres, eram predestinados, um exemplo. Tenho certeza que estão sendo acolhidos por Deus”, destaca.

Natália Tomeleri também era do grupo de oração e amiga íntima da jovem: “A Karol era pura luz, a nossa felicidade. No início, a gente não conseguia acreditar, achamos que ela poderia aparecer, mas, infelizmente, a tragédia era real”, diz, emocionada.

O pai de Karoline, Dilson Alves, passou todo o dia ao lado do caixão da filha. No salão, destaque também para as mais de 30 coroas de flores, enviadas em homenagem à adolescente.

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No início da manhã, o homem conversou com a imprensa e repassou detalhes de como ela era: “A Karoline era sorridente... estava sempre sorrindo e muito feliz. Sempre sendo uma filha exemplar, prestadora de serviços para igreja, menina de Deus”, diz.

Crime chocou a cidade de Cambé, no Paraná  Foto: EFE/ Filipe Barbosa

Alves também lembra que a filha tinha muitos sonhos, e que todos eles foram interrompidos de forma brutal. “O sonho dela era de casar, ter filhos. Ela queria ser professora, fazer um curso de gastronomia. Tinha planos de ir para os Estados Unidos, ficar um tempo lá, depois voltar e terminar o curso, aí atuar (na área) e casar e ser mãe”, conta.

Investigação

O atirador, ex-aluno do colégio atacado, de 21 anos, foi contido por um morador da região e acabou preso em flagrante. Com ele, a polícia apreendeu o revólver calibre 38 usado no atentado, que ele teria comprado por R$ 4,5 mil, mais de 40 munições e uma machadinha. O rapaz também mantinha diários com os planos do ataque, que teria sido planejado por cerca de 4 anos.

Um outro rapaz, de 21 anos, também foi preso ainda na segunda-feira acusado de ajudar o atirador a planejar o atentado. Ele teria sido o responsável por gravar os vídeos em que o suspeito aparece fazendo ameaças e que foram divulgados nas redes sociais.

Um adolescente de 13 anos também foi apreendido por envolvimento no caso, mas prestou depoimento e foi liberado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, há a suspeita de que moradores de Pernambuco também teriam participado da organização do ataque. A polícia do Estado nordestino já foi avisada e trabalha para identificar os suspeitos.

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