Turista brasileira é vítima de estupro coletivo na Índia: ‘Pensei que íamos morrer’

Foram presos 3 suspeitos; influenciadora de canal de viagens recebeu atendimento médico, mostrou hematomas em vídeo nas redes e prestou depoimento. País asiático tem 90 agressões sexuais por dia

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

Uma turista brasileira, que também tem cidadania espanhola, foi vítima de estupro coletivo no leste da Índia, por onde viajava com o marido de moto. O casal - Vicente e Fernanda - mantém nas redes sociais um canal de viagens pelo mundo. Três suspeitos do crime foram detidos neste sábado, 2, e a polícia está atrás de outros envolvidos.

A violência sexual ocorreu na noite de sexta-feira, 1º, no distrito de Dumka, estado de Jharkhand, onde o casal parou para acampar em uma área remota. Eles haviam montado a tenda para passar a noite quando foram atacados.

A polícia acredita na participação de até dez pessoas. Os viajantes também foram roubados e Vicente relata ter sido ameaçado com uma faca no pescoço.

Brasileira relatou estupro na Índia Foto: Reprodução/Instagram/@fernanda.4ever/

A denúncia foi reportada no sábado, logo após o ocorrido. Mas como os agentes só sabiam falar hindi, língua local, as autoridades souberam que era um estupro só quando ambos chegaram no hospital.

O casal, que passou a primeira noite após o episódio sob tratamento médico, já foi transferido para uma unidade do governo. Eles já prestaram depoimento a um juiz.

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Vista do hospital para onde o casal atacado no nordeste da Índia foi hospitalizado, depois da mulher ser vítima de estupro. Após receber cuidados médicos, o casal foi transferido para uma casa oficial do governo regional em local não revelado. Foto: Mikaela Viqueira/EFE

Casal mantém canal de viagens pelo mundo

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Vicente e Fernanda, casal dono de um canal sobre viagens pelo mundo, relatam o caso. Com hematomas nos rostos, eles contam que foram espancados, roubados e a mulher, violentada. Essa gravação não aparece mais no perfil deles.

O marido de Fernanda relatou que os criminosos colocaram uma faca no seu pescoço e o agrediram durante o ataque que terminou com uma agressão sexual contra ela. “Bateram várias vezes com um capacete e atingiram uma pedra na minha cabeça.”

No perfil próprio, Fernanda também publicou vídeo sobre o fato ocorrido. “O meu rosto está assim, mas não é isso que me dói mais. Pensei que íamos morrer, mas graças a Deus estamos vivos”, disse ela, mostrando o rosto bastante machucado.

Em vídeo publicado neste domingo, 3, no canal de viagens do casal, Vicente agradece o apoio recebido e também diz que acredita na polícia. Ambos também citam que o crime não pode ser associado à Índia, que é um grande país e oferece experiências incríveis para quem visita.

“Não pense que a Índia é assim, porque não é verdade”, disse ele. “Os indianos são boas pessoas. Encontramos alguns indesejáveis, mas não podemos generalizar”, acrescentou Fernanda.

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Fernanda e Vicente em frente ao Taj Mahal, durante viagem ao país indiano. Foto: Reprodução/Instagram/vueltaalmundoenmoto

O casal de influenciadores é conhecido pelo perfil @vueltaalmundoenmoto, onde relata as viagens feitas de motocicleta ao redor do mundo, detalhando as estradas, os acampamentos, além da cultura dos locais visitados.

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No perfil do Instagram, que reúne mais de 166 mil seguidores, são descritas viagens, sendo a mais recente para a Índia, onde o casal foi vítima da barbárie. Das 196 nações que enumeraram pretender visitar, já estiveram em pelo menos 66.

Segundo o casal, o projeto “Volta ao Mundo de Moto” consiste em viajar por todos os países do mundo onde é permitido entrar com as motocicletas. A ideia não é apenas atravessá-los, mas visitá-los e passar algum tempo neles para os conhecer melhor.

O casal viajou da Espanha para fazer uma viagem por vários países asiáticos, entre eles Paquistão, Bangladesh, Índia e Nepal.

Em uma publicação mais antiga, a brasileira cita que, apesar do sotaque e de viver no exterior, ama muito o Brasil. “Isso (sotaque) não importa. O que importa é que sou do meu Brasil, que amo muito”, disse.

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“É um incidente condenável e a polícia está tomando as medidas apropriadas. Os culpados não serão poupados”, afirmou Mithilesh Kumar Thakur, ministro regional de Jharkhand.

Já a Comissão Nacional da Mulher (NCW na sigla em inglês), ligada ao governo indiano, divulgou ter solicitado agilidade na resolução do caso e, ainda, informou que a presidente do comitê, Rekha Sharma, encontrou-se com a brasileira. “A NCW condena o brutal estupro coletivo (...). De acordo com os relatórios, havia 8 a 10 homens envolvidos”, publicou em rede social.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que a embaixada do Brasil em Nova Delhi presta assistência à brasileira. “Seguiremos acompanhando todos os desdobramentos do caso, em estreita coordenação com as autoridades da Espanha e da Índia”.

A pasta acrescenta ainda que em respeito ao direito à privacidade e à legislação, não são fornecidas informações adicionais sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.

Nas redes sociais, a Embaixada da Espanha no país asiático agradeceu as manifestações de apoio e defendeu o combate à violência contra a mulher.

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País asiático tem média de 90 agressões sexuais por dia

Em 2022, a Índia teve uma média de 90 estupros diários, de acordo com o escritório nacional de registros criminais. No entanto, muitos destes ataques não são denunciados, por causa do estigma que as vítimas costumam sofrer e também da falta de confiança no trabalho da polícia.

A lei estabelece penas severas para o estupro, a maioria inafiançáveis. Um estupro, segundo o Código Penal indiano, é punível com ao menos 10 anos de reclusão, e um estupro coletivo, com prisão perpétua. Após os depoimentos, a polícia pode pedir à vítima que reconheça os agressores, sendo que estes também deverão passar por exames médicos.

As condenações, no entanto, são raras e muitas denúncias acabam estagnadas no saturado sistema judicial do país, que tem a maior população do planeta.

Em 2012, o caso de uma estudante que foi vítima de um estupro coletivo e depois assassinada ganhou as manchetes em todo o mundo. Jyoti Singh, uma estudante de psicoterapia de 23 anos, foi estuprada e abandonada, dada como morta, por cinco homens e um adolescente em um ônibus em Nova Délhi, em dezembro daquele ano.

O caso trouxe à tona os altos níveis de violência sexual na Índia e levou a semanas de protestos e a uma mudança na legislação para punir o crime de estupro com a pena de morte. /COM AGÊNCIAS

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