Um protesto solitário contra a injustiça

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Por MACAPÁ

Além da harmonia entre os poderes e da falta de fiscalização, a tolerância dos amapaenses diante da corrupção é citada como causa do excesso de desvios no Estado. Com 660 mil habitantes, isolado do Brasil pelo Rio Amazonas e pela floresta que cobre 75% do seu território, o Amapá se movimenta a base de verbas federais. Na economia local, metade da população está empregada nas instituições públicas, enquanto outra metade vive dos serviços e do comércio.A casa do desempregado Paulo Sérgio Souza da Silva, de 46 anos, aparece como um monumento contra as injustiças dos governantes amapaenses. Há 28 anos, desde que foi atropelado por um motorista de um carro oficial, que fugiu sem prestar socorro, ele passou a pintar e a manifestar sua revolta em todos os cantos do lugar onde mora."Ódio", "governo me deve", "atropelou e não prestou socorro", "dor" são algumas das palavras e frases que ele pinta, em diferentes tamanhos e cores, em paredes, dentro das gavetas, no vaso sanitário, em bandeirinhas que pendura pelo teto, na escada. Quando foi atropelado, Souza conta que recebia 2 mil cruzeiros. Queria pelo menos um mínimo para poder se sustentar e tentou entrar com ações na Justiça, mas diz que os advogados "foram comprados pelo governo". "Meu caso é minúsculo e minha vida foi toda desestruturada por causa do governo. O governo te cobra 24 horas, mas não paga um minuto pelo que deve", é uma das outras frases que Souza sempre repete.De forma meio destrambelhada, o desempregado garante que quer chegar até o 100 anos protestando contra as injustiças cometidas pelos "governos". Quando acabar os espaços de dentro da sua casa, diz que vai partir para as ruas. / B.P.M.

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