Uruguai aprova lei que permite julgar crimes da ditadura

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação

O Parlamento do Uruguai aprovou na madrugada desta quinta-feira uma lei que permitirá o julgamento dos militares que cometeram crimes durante a ditadura de 1973 a 1985 e que estavam protegidos por uma anistia. A Frente Ampla, coalizão de esquerda que apoia o presidente José Mujica -- um ex-guerrilheiro nas décadas de 1960 e 1970, que ficou preso durante vários anos --, conseguiu aprovar a lei depois de diversas tentativas frustradas e após um tenso debate de quase 12 horas no Parlamento. A coalizão levou adiante o projeto de lei depois que a Suprema Corte de Justiça determinou, em maio, ao se pronunciar sobre um caso particular, que os crimes cometidos durante o regime militar eram delitos comuns, e não de lesa humanidade. A sentença estabelecia um precedente para que se considerasse que as violações aos direitos humanos cometidas durante o regime militar deixassem de ser puníveis a partir de 1o de novembro deste ano, quando iriam prescrever. Por isso, a coalizão enviou o novo projeto ao Parlamento. "Esta noite é histórica...É um triunfo não da Frente Ampla, mas da democracia. 'E preciso desmantelar a cultura da impunidade imposta durante 25 anos e trocá-la por uma cultura de direitos humanos", disse à Reuters o deputado governista Luis Puig. A nova lei considera os crimes cometidos durante a ditadura como de lesa humanidade, resultando em um novo argumento jurídico para tirar força da Lei da Caducidade, em vigor desde 1986, a qual exime os militares de irem a julgamento por delitos nessa época. Apesar da lei de anistia de 1986, dez militares foram presos, incluindo o ditador Gregorio Alvarez. Foi processado também o ex-presidente Juan María Bordaberry, que faleceu em julho. No entanto, dezenas de membros das Forças Armadas acusados de delitos durante o regime militar nunca foram julgados. Os crimes comuns prescrevem no Uruguai após determinado período, razão pela qual a partir de novembro deixariam de ser passíveis de julgamento caso essa nova lei não tivesse sido aprovada. Cerca de 200 pessoas morreram e milhares foram torturadas ou vítimas de outros abusos em mãos de militares durante a ditadura, e outras tiveram de exilar-se. Aproximadamente 130 denúncias recentes de delitos de lesa humanidade se somaram aos mais de 80 casos já conhecidos. (Reportagem de Malena Castaldi. Reportagem adicional de Felipe Llambías)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.