O consumo de analgésicos opioides, como codeína, oxicodona ou hidrocodona, pouco antes do início da gestação ou no seu começo, aumenta em duas vezes o risco de que o bebê nasça com algum tipo de malformação congênita.As principais malformações são problemas cardíacos, espinha bífida, hidrocefalia (água no cérebro), glaucoma congênito e grastroesquise (quando a parede abdominal apresenta uma abertura pela qual os intestinos e o estômago podem sair).O alerta foi feito anteontem pelo Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos EUA, que estudou essas medicações. Os resultados serão publicados no American Journal of Obstetrics and Gynecology.A advertência nos Estados Unidos se estende a analgésicos que precisam de prescrição médica como o Vicodin, OxyContin e Tylenol-3, bem como a uma variedade de versões genéricas dos medicamentos.No Brasil, drogas como Tylex, Codein, Vicodil, Codex e Belacodid possuem codeína em sua composição e também são de venda restrita: só podem ser comercializadas com prescrição médica e retenção de receita.Embora exista um risco maior de graves tipos de defeitos congênitos em razão da exposição à substância, "o risco absoluto para a mulher é relativamente modesto", afirmou a epidemiologista Cheryl S. Broussard, do CDC, responsável pelo estudo dos medicamentos.As conclusões estão no Estudo Nacional sobre a Prevenção de Problemas Congênitos, o maior sobre o tema já realizado nos EUA. Patrocinado pelo CDC, o trabalhou analisou grávidas de dez Estados americanos e examinou somente o uso dos medicamentos de prescrição médica, e não seu uso ilícito.No Brasil. De acordo com o ginecologista Eduardo Borges da Fonseca, presidente da Comissão de Medicina Fetal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), os opioides são medicamentos bastante usados no Brasil, mas têm indicação bem restrita para as gestantes."São drogas analgésicas bastante potentes, normalmente usadas em pacientes após cirurgias. Para a mulher grávida, são indicadas apenas em casos de dor extrema, como uma crise de pedra nos rins, por exemplo, onde os benefícios superam os riscos", diz Fonseca.A ginecologista Fabiana Sanches, do setor de patologia obstétrica do Hospital Santa Marcelina, diz que ainda não se sabe em qual dose essas medicações podem causar problemas. "Mas elas aumentam o risco de algumas raras malformações. Isso não quer dizer que se tomar a medicação o feto terá o problema. Além disso, todo medicamento deve ser prescrito por médico, e ele deve avaliar a real necessidade do uso", alerta a ginecologista.Segundo o ginecologista Marco Antônio Borges Lopes, professor da USP, o maior problema para as gestantes é o consumo de anti-inflamatórios - drogas de venda livre, amplamente consumidas por conta própria.Os mais comuns são Voltaren, Nimesulida, Profenid e Indometacina. "O uso indiscriminado desses medicamentos durante a gestação pode causar problemas graves no coração do feto. A automedicação, nesses casos, é muito mais perigosa do que o uso dos opioides, que são contraindicados para grávidas", diz.Fonseca diz que esses anti-inflamatórios podem causar defeitos cardíacos em qualquer fase da gestação - defeitos mais graves quanto maior o tempo de gravidez. Os opioides, ao contrário, apresentam risco aumentado no primeiro trimestre, quando os órgãos e tecidos do feto estão começando a se formar.Malformações. Os defeitos cardíacos congênitos são o problema mais comum das malformações de nascença e afetam anualmente cerca de 40 mil crianças nos Estados Unidos. No Brasil, estima-se que 28 mil crianças nasçam todos os anos com esse tipo de doença. Muitas das crianças afetadas morrem no primeiro ano de vida e as que sobrevivem frequentemente precisam ser submetidas a cirurgias, internações prolongadas e a tratamentos ao longo de toda a vida. / COM LOS ANGELES TIMES
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