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Donald Trump, presidente dos EUA, mostrou neste primeiro mês de governo que não tem limites nem pudores para atacar a diversidade, a exemplo de sua declaração sobre o acidente aéreo que matou 67 pessoas em Washington: "o nível dos controladores de tráfego caiu nos últimos anos - leia-se, nos governos dos democratas Barack Obama e Joe Biden - por causa das políticas de diversidade da Administração Federal de Aviação (Federal Aviation Administration - FAA)".
Uma conexão maquiavélica, demonstração do tipo de estratégia que ele vai usar para demolir práticas de inclusão e equidade.
Esse pensamento vai se alastrar e grupos que hoje já enfrentam discriminação e preconceito - capacitismo, homofobia, racismo, misoginia e xenofobia - vão se tornar alvos constantes de violência verbal e até física.
Não se trata apenas do encerramento de ações que ampliam a participação na sociedade das pessoas com deficiência, das populações negra e LGBT, das mulheres, de imigrantes e refugiados, do bloqueio de acesso à educação e ao trabalho, do impedimento da cidadania. Essa guinada agressiva vai provocar um retrocesso e reconstruir ambientes profundamente tóxicos para esses grupos, cenários de exclusão declarada e praticada sem nenhum constrangimento.
Já fui alvo direto do desconhecimento sobre o que significa ter deficiência, principalmente quando essa condição não é visível. Um colega de trabalho me acusou de "roubar o emprego de um amigo cego" que havia passado pelas mesmas etapas de seleção que enfrentei, mas foi uma habilidade minha, a locução, que garantiu minha contratação. Na mesma empresa, outra colega disse "você é uma farsa" quando tomou ciência da minha inclusão na cota de vagas para pessoas com deficiência.
Tempos depois, em outro local, o principal chefe da minha equipe se referia abertamente a um colega homossexual como "menino bixinha", em voz alta, e o chamava estalando os dedos.
Profissionais e setores de promoção e proteção da diversidade têm função primordial na qualidade do ambiente de trabalho e na extinção de hábitos que eram naturalizados, como piadas, comentários maldosos, isolamento, barreiras à evolução profissional. E tudo isso afeta diretamente o negócio, a marca, a reputação, a conquista de clientes, a venda de produtos e o lucro.
O resultado dessa mudança já está escancarado. Em entrevista ao blog Vencer Limites, o presidente do Casarão Brasil Associação LGBTI e coordenador do Centro de Cidadania LGBTI 'Cláudia Wonder', Rogério de Oliveira, equipamento que funciona há 16 anos em São Paulo, tem apoio da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, faz atendimento 24/7, garante moradia e cinco refeições por dia a mulheres trans, disse que enfrenta dificuldades e perda de patrocínio de multinacionais com sede nos EUA por causa do encerramento de práticas de diversidade, inclusão e equidade nas corporações e também por reflexo da onda crescente de conservadorismo em vários países, inclusive o Brasil.
"Vivemos um momento extremamente conservador, empresas que antigamente nos apoiavam agora não apoiam. Ele (Donald Trump) declara que não existe mais essa questão de gênero, só o masculino e o feminino. Essa onda afetou diretamente nosso equipamento da Lapa, que recentemente perdeu um edital para uma entidade de direitos humanos com viés religioso, que vai coordenar um equipamento LGBT no nosso lugar, um dos nossos principais serviços, de qualificação profissional e do programa Transcidadania, que é ligado à Secretaria de Direitos Humanos", diz.
Serão quatro anos muito difíceis e recuperar o que for destruído nesse período vai exigir muita coragem e energia de quem luta há muito tempo.