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Uma menina autista de 14 anos foi estuprada por um indivíduo que ela conheceu por meio de um aplicativo de relacionamentos. O crime, cometido em dezembro do ano passado, veio a público nesta quarta-feira, 15, em reportagem do portal A Tribuna, de Santos, litoral de SP.
Segundo a matéria, a adolescente tinha acesso à internet, com linha própria no smartphone há aproximadamente um mês, e conseguiu burlar a vigilância da família para sair de casa enquanto a irmão dormia e a mãe tomava banho. O criminoso parou de carro na porta da casa da menina, em São Vicente, também no litoral paulista, a garota entrou no veículo, levou uma pancada na cabeça e foi transportada até uma casa em Santos, onde sofreu a violência.
De acordo com a reportagem, a mãe da garota autista declarou que "a reclamação dela sempre é essa falta de amigos, é algo que o psicólogo sempre fala. Ela não consegue fazer amizades, então é muito carente nesse ponto. Ela busca fazer amizades de qualquer forma, mas não vê malícia. Ela me disse: 'mãe, ele falou para mim que, se eu não descesse, ele ia ficar chateado comigo, então fui para ele não ficar chateado'. Ela não vê maldade".
A família registrou boletim de ocorrência e contratou advogado. Câmeras de casas vizinhas gravaram o momento no qual a adolescente entra no carro e automóvel deixa o local. A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que o caso é investigado pela Polícia Civil de Santos e está sob sigilo.
Mulheres com deficiência são os principais alvos de violência no País, segundo o Atlas da Violência 2024, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O estudo usa o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que pertence ao Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), atualizado por profissionais de saúde, e os números da população com deficiência projetado para 2022 pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), organizada pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
Por outro lado, informações específicas sobre a violência contra pessoas com deficiência permanecem fora do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A edição de 2024, produzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, continua usando boletins de ocorrência emitidos em todo o País, mas não há padrão nacional para esses documentos e nem espaço no preenchimento dos diferentes modelos em cada Estado para identificar se a vítima tem ou não deficiência auditiva, física, intelectual, múltipla ou visual. Entre as 404 páginas do Anuário 2024 há somente quatro citações a pessoas com deficiência, mas meramente como grupo mencionado.
Os perigos se multiplicam quando pessoas com deficiência são os alvos em uma internet sem lei, sem monitoramento de segurança, sem vigilância, sem um mínimo de acompanhamento para identificar e impedir crimes.
Gente com deficiência está no topo da lista de vítimas de agressões constantes, mas isso parece irrelevante nos debates calorosos sobre publicações mentirosas nas redes sociais, censura e liberdade de expressão. O que importa a influenciadores e engajados, seja à esquerda ou à direita, é agradar seguidores e viralizar.
Um discussão medíocre, empobrecida pela ausência de comprometimento com a civilidade, apodrecida pela monetização, corroída pelo desconhecimento a respeito da várias realidades sociais do País, que joga o povo com deficiência, joga meninas autistas, carentes e excluídas, desesperadas por amizade e afeto, diretamente nas mãos de criminosos do tipo mais violento.