
Faz tempo que a senadora Mara Gabrilli (PSD/SP) quebra constantemente a redoma que cerca e mantém invisíveis as pessoas com deficiência. Sua atuação política sempre ultrapassou esse tema. Entrevistas e reportagens com a parlamentar tratam de muitos assuntos além de acessibilidade e inclusão.
Claro que é impossível desassociar Mara das temáticas da população com deficiência, por sua imagem de mulher com deficiências severas, uma representatividade importante, especialmente no ambiente de trabalho da senadora, ainda com presença e participação escassas de gente com deficiência.
Na semana que passou teve Mara pra todo lado, em fotos, vídeos, reportagens de TV, Internet e jornais sobre sua visita a Nova York e o teste do Atalante, exoesqueleto desenvolvido pela startup francesa Wandercraft.
Todos viram Mara, tetraplégica, levantar de uma poltrona e caminhar de frente e de lado. A senadora, mais uma vez, abriu as portas para as pessoas com deficiência em espaços que quase nunca tratam das nossas temáticas, mas é necessário destacar que ganhamos muito mais visibilidade quando proporcionamos um espetáculo.
Grandes veículos de imprensa usam e abusam desse show tecnológico, com a figura da pessoa com deficiência consertada, curada, reconstruída, com a deficiência superada.
O tamanho do palco para essa atração é sempre muito maior do que para outras discussões essenciais do povo com deficiência. Exemplo mais recente dessa diferença foi a cobertura sobre a fala capacitista do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a respeito das pessoas com transtornos mentais.
Exceto pela justa indignação de quem conhece muito bem os enfrentamentos de gente com sofrimentos da mente e da repercussão desse caso nas tábuas de jornalismo setorial, inclusive o blog Vencer Limites, as declarações profundamente equivocadas e preconceitosas do chefe do executivo não estamparam colunas sobre política, não se tornaram manchete de destaque em jornais, revistas e portais, não foram tema de comentários no rádio e na TV.
Esse desequilíbrio na balança das pautas se deve ao desinteresse pelo aprofundamento das discussões sobre pessoas com deficiência e pelo desconhecimento a respeito dos estragos que afirmações desse calibre causam.
Questões essenciais do povo com deficiência estão muito além do show. Já passou da hora de derrubar essa cortina.