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Diversidade e Inclusão

Morre homem que lutava por tratamento de doença rara que acelera envelhecimento

André Borges das Neves tinha 37 anos, morava em Valparaíso de Goiás (GO) e aguardava respostas da secretaria municipal de saúde sobre confirmação de diagnóstico. Ele faleceu após sofrer cinco paradas cardíacas.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura

André Borges das Neves tinha 37 anos. Foto: Arquivo Pessoal / André Borges das Neves / 2021.


Morreu na madrugada desta quinta-feira, 20, André Borges das Neves, morador de Valparaíso de Goiás (GO). Ele tinha 37 anos e enfrentava desde 2015 as sequelas de um envelhecimento precoce que já comprometia sua mobilidade e causava problemas graves no coração, pulmões e rins.

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Com a ajuda das irmãs, André havia passado, em dezembro do ano passado, pela avaliação de um médico nefrologista, que confirmou o quadro e indicou um exame de DNA. A principal suspeita era de síndrome de Werner.

Segundo familiares, na noite desta quarta-feira, 19, André passou mal em casa e foi levado ao hospital, onde foi constatado um infarto. Ele teve uma parada cardíaca, mas foi reanimado pela equipe de emergência e internado na UTI. De acordo com uma irmã de André, ele faleceu às 2h30 desta quinta-feira, 20, após sofrer mais quatro paradas cardíacas.

"Apesar das dificuldades, ele tinha muita esperança de conseguir confirmar o diagnóstico e receber o tratamento correto, mas não houve tempo", contou ao blog Vencer Limites uma das irmãs de André. A família não deu informações sobre velório e sepultamento.


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Laudo emitido por médico nefrologista atesta problemas cardíacos, pulmonares e renais. Crédito: Arquivo Pessoal / André Borges das Neves. Foto: Estadão


A batalha de André foi contada em reportagem do blog Vencer Limites, publicada em dezembro do ano passado. Sem condições de trabalhar, ele não conseguia mais pagar o plano de saúde e havia procurado a rede pública municipal, mas estava em uma lista de espera, sem previsão de data para atendimento.

"A partir de 2015, comecei a envelhecer e adoecer de forma inexplicável. Em 2019, aos 34 anos, fui internado às pressas por causa de uma infecção pulmonar generalizada. Na época, o médico disse que não era comum uma pessoa da minha idade ter esse problema com tanta intensidade. Nunca fumei ou usei entorpecentes", contou André.

"Fiz vários exames e passei por diversas consultas até receber o diagnóstico de miocardiopatia dilatada, sopro no coração e insuficiência cardíaca. Eu ainda tinha plano de saúde e estava sendo atendido, mas não conseguia mais trabalhar e pagar. Então, comecei a luta no sistema público de Valparaíso de Goiás", disse.

No dia 6 de agosto de 2020, às 23h, em processo de infarto, André foi internado no hospital municipal de Valparaíso de Goiás.

"Fiquei um ano me consultando com o único cardiologista da rede pública da cidade, até que ele disse não ter mais gabarito para continuar me atendendo e mandou que eu procurasse um arritmologista na rede particular", relatou.

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A avaliação particular, somando os exames, custou R$ 5 mil, que foi bancada pelas irmãs de André. E o médico o encaminhou de volta à rede pública. "Ele explicou que os valores dos tratamentos seriam exorbitantes, que preciso de um marca-passo ou até de um transplante cardíaco", comentou André.

Em 16 de setembro de 2020, ele foi novamente para o hospital, atendido na emergência com diabetes e insuficiência renal crônica.

"Fui à secretaria da Saúde e quase acionei a Justiça, por meio do Ministério Público e da Defensoria Pública. Me colocaram em uma fila de espera para mandar o caso a Goiânia, mas até hoje não obtive retorno. E o cardiologista que me atende em Valparaíso de Goiás disse para a assessora jurídica da secretaria que eu queria apenas um papel para me aposentar. O que eu preciso é de ajuda para não morrer".

André tinha 1,60m de altura e, quando concedeu entrevista ao blog Vencer Limites, pesava 46kg e já usava uma bengala para ajudar na mobilidade. A família havia solicitado orçamentos em quatro laboratórios para fazer o exame de DNA. Os preços variavam entre R$ 8.500 a R$ 15.900.

"Moro a 30 quilômetros de Brasília, mas lá ninguém me atende porque minha cidade faz parte do Estado de Goiás. Dizem que preciso ir para Goiânia, que fica há 200 quilômetros. Estou em desespero para poder ter o acompanhamento correto e tratar meus problemas. Tenho 37 anos, mas estou mais velho do que meu pai, de 72", contou André.

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Após a publicação da reportagem, André contou que foi procurado pela secretaria municipal de Saúde e que seria atendido. Ele ainda lançou uma vaquinha virtual para obter recursos que seriam usados para bancar exames e outros gastos.

Resposta - No ano passado, o blog Vencer Limites pediu explicações à Prefeitura de Valparaíso de Goiás e aguardou mais de um mês, mas a resposta só foi enviada, por nota, no dia seguinte à publicação da matéria.

Leia a íntegra da nota.

"A Secretaria Municipal de Saúde recebeu o senhor André Borges das Neves em meados de setembro, onde fora lhe dado todo suporte que fora possível no momento, foram marcadas consultas nas especialidades de cardiologia e urologia, além da realização de exames solicitados pelos médicos. Ocorre que o senhor André, necessita de atendimento com a especialidade de Nefrologia, especialidade esta que não possuímos no município. Para tanto, o senhor André fora cadastrado nos dois sistemas de regulação aos quais esta Secretaria possui acesso: o Sistema da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, na data de 22/09/2021, e o Complexo Regulador Estadual (CRE), na data de 24/11/2021. Logo, estávamos aguardando o agendamento por parte do Estado para atendimento ao senhor André. Porém, em contato com o mesmo, fora nos informado sobre piora no quadro, haja vista ocorrência de infiltração nos pulmões, que fora prontamente informado ao sistema de regulação, elevando o nível de prioridade do caso. Em razão de tal situação, fora realizado o agendamento da consulta com Nefrologista para o senhor André por intermédio do CRE para janeiro de 2022".


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