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Diversidade e Inclusão

Poderoso frágil

Admitir deficiências e renunciar pela coletividade são provas de coragem, jamais de incapacidade.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura
Joe Biden tem 81 anos. Foto: Manuel Balce Ceneta / AP.


Dias atrás, The Economist, publicação inglesa, defendeu a renúncia de Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos, da disputa pela reeleição, e trouxe na capa a foto de um andador ao lado do título "Sem condições de conduzir um país".

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É contraditório. Afinal, são os equipamentos de acessibilidade que garantem autonomia e independência à pessoa com deficiência - assim como fez Franklin Roosevelt em sua cadeira de rodas -, exatamente o contrário do que sugerem grandes veículos da imprensa mundial num angustiante debate em torno das condições físicas e intelectuais de Joe Biden.

Quero acreditar que Biden vai ceder e desistir da disputa, mas não porque se entende incapaz, ao contrário, tende a se tornar herói do "bem contra o mal", personagem que entregou escudo e espada em honra do povo e em defesa da nação.

Faz tempo que a cognição do presidente norte-americano é questionada. Hoje com 81 anos, ele foi flagrado muitas vezes - desde que assumiu o cargo de líder da (ainda) grande potência mundial, bélica e econômica - em situações de desorientação e letargia.

A situação piorou exponencialmente após o mais recente debate com o ex-presidente republicano Donald Trump, apenas três anos mais novo do que Biden, mas disposto à troca de porradas.

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Biden declarou depois que estava exausto, consumido pela agenda presidencial.

Se fosse um sujeito comum de qualquer canto do nosso País, provavelmente haveria uma discussão familiar sobre interdição e internação, combinação frequentemente sugerida para a "dignidade" dos idosos por aqui.

Evidenciar as fraquezas de Joe Biden, atribuindo qualidade às suas deficiências, buscando incapacidades, vai motivar uma demonstração contrária de força, e há um tremendo poder proporcionado pela presidência dos Estados Unidos, mesmo nas mãos de um homem debilitado, avaliação geral a respeito de Biden neste momento.

Podemos usar esse cenário para refletir sobre etarismo e capacitismo.

Admitir as próprias fragilidades é um ato de coragem, especialmente quando o corpo demonstra dificuldades de reabilitação e a opção racional é traçar estratégias para conviver com deficiências e seguir seguro em frente.

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Não é derrotismo, tão pouco fraqueza de caráter. Trata-se de um exercício de autoconhecimento, uma percepção absolutamente individual cercada por opiniões e pressões.

Está em todas as vidas, é empírico. Envelhecer tem consequências no cérebro, independentemente de como o indivíduo passou pelo tempo.

Caso permaneça na briga, qual tropa Biden terá disponível e qual armadura vai usar para não cair? Seu grupo, diz The Economist, detém o comando do partido Democrata e, sendo assim, penso que essa máquina tem todos os recursos possíveis - de acessibilidade, inclusive - para dar máximo apoio ao presidente em busca da reeleição e na condução do país.


The Economist defende renúncia de Joe Biden à reeleição. Foto: The Economist.


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