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Diversidade e Inclusão

Projeto de educação para cegos amplia trabalho e abre cursos a moradores do Rio Grande do Sul

'Matemática em Conta-Gotas', criado em 2019 pelo professor João Vinhosa, passa a atender também estudantes sem deficiência; duas alunas de Caxias do Sul já estão acompanhando as aulas.

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Foto do author Luiz Alexandre Souza Ventura

O professor João Vinhosa, de 78 anos, criador do projeto 'Matemática em Conta-Gotas', diz não saber a quantidade de alunos beneficiados pelo programa de educação à distância para pessoas com deficiência visual, desenvolveido em 2019, e celebra constantes avanços da iniciativa, como as duas conquistas mais recentes: o atendimento a pessoas sem deficiência e uma ação específica para moradores do Rio Grande do Sul, estado duramente atingido por chuvas e enchentes neste ano.

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"É um curso direcionado às necessidades dos alunos gaúchos, absolutamente gratuito, hospedado no site emcontagotas.com, projetado e administrado por quatro pessoas com deficiência visual, que pode ser acessado por qualquer pessoa. O objetivo é levar uma pessoa que conheça apenas as quatro operações fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão), a dominar a equação de segundo grau", diz Vinhosa. "Duas alunas de Caxias do Sul já estão acompanhando as aulas", conta.

O conteúdo tem 45 aulas com dez minutos de duração, em áudio e texto, e respectivos testes de conhecimento. Para ter acesso a uma nova aula, o aluno precisa ser aprovado no teste da aula anterior.

Todo o ensinamento começa do zero, sem necessidade de formação de turmas. O estudo é individualizado e o aluno é livre para estudar quando puder.

Evolução - "O aluno despreparado é, compreensivelmente, impaciente. Isto obriga o professor a motivá-lo logo nos primeiros instantes de cada aula, sob pena de não conseguir a sua atenção", afirma o professor.

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Tudo começou em 2019, quando foi criado um grupo de estudos à distância de matemática para pessoas com deficiência visual, batizado de 'Entenda Matemática CVL', formado por cinco alunos que se reuniam toda quinta-feira em uma sala do Núcleo de Apoio às Pessoas com Deficiência Visual da biblioteca municipal de Cascavel, no Paraná. Nessa época, o professor, ainda morava em Recife (PE), mas Vinhosa está atualmente em Itaperuna (RJ).

"O objetivo inicial do grupo era levar, em tempo relativamente curto, pessoas com deficiência visual, que não aprenderam matemática quando a matéria lhes foi apresentada na escola, a dominar todos os conceitos de equações de segundo grau. Em outras palavras, levar o aluno do nível 'zero' ao entendimento total do que realmente importa", explica o professor.

Vinhosa chama atenção para o perfil "extremamente improvável" do grupo de Cascavel, com média de 35 anos de idade, três com formação superior em Pedagogia e um em História. "Por si só, isso indica que nenhum deles tinha aptidão para matemática quando a matéria lhes foi apresentada na escola", comenta.

"Considerando a impossibilidade de se ensinar matemática para uma pessoa que não domina os pré-requisitos necessários ao assunto que vai ser estudado, foi necessário fazer uma programação destinada exclusivamente ao grupo de estudos. Devido à particularidade do caso, textos específicos para dar suporte às aulas tiveram que ser preparados. Por razões econômicas, os textos não foram impressos em braile, o que dificulta muito certas partes da matéria. Com toda a certeza, o rendimento dos alunos aumentaria substancialmente se os textos tivessem a sua versão em braile", avalia Vinhosa.

Na programação que foi feita para o grupo, diz o professor, atenção especial foi dada para três coisas "que são óbvias, porém frequentemente negligenciadas", diz.

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"Para que o aluno despreparado entenda a matéria, é necessário que o professor desça ao nível do aluno e venha raciocinando junto com ele até o ponto desejado", orienta o docente.

"O aluno despreparado, na maioria das vezes, sofre de 'trauma de matemática', mal psicológico ocasionado pela suposta incapacidade de aprender a matéria. Tal trauma, se não for adequadamente tratado, provoca o bloqueio mental e impede o aprendizado da disciplina", esclarece.

"O aluno despreparado é, compreensivelmente, impaciente. Isso obriga o professor a motivá-lo logo nos primeiros instantes de cada aula, sob pena de não conseguir a sua atenção", defende Vinhosa.

"Uma coisa tem que ficar bem clara: é preciso convencer o aluno, logo nos primeiros minutos, que ele é capaz de entender coisas que, no seu julgamento, eram incompreensíveis. É importante convencê-lo logo nos primeiros instantes para que sua atenção seja atraída. Ou seja, o aluno despreparado tem que ser conquistado de imediato", recomenda o professor.


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