As vendas no varejo brasileiro subiram acima do esperado em julho, mostrando que o setor continua sendo o principal motor da economia brasileira, impulsionado pela queda da taxa de juros e um mercado de trabalho estável. Em julho, as vendas tiveram alta de 1,4 por cento ante junho, no segundo resultado positivo seguido, e registraram elevação de 7,1 por cento em relação a igual mês de 2011, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira. "Esse resultado evidencia que o mercado de trabalho continua dando suporte ao consumo, que por sua vez se mostra como o motor da economia", avaliou o estrategista-chefe do Banco WestLB Luciano Rostagno. Ambos os resultado ficaram acima do esperado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Reuters previam que as vendas no varejo subiriam 1 por cento em julho ante junho, de acordo com a mediana das projeções de 26 analistas. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expectativa era de crescimento de 6,9 por cento, segundo a mediana de 25 estimativas. "Com certeza, o comércio está operando num ritmo mais forte que outros setores da economia", disse o economista do IBGE Reinaldo Pereira. "A tendência é de retomada das vendas, mas não sabemos o tamanho disso e se representa efetivamente uma recuperação mais forte da economia." POLÍTICA MONETÁRIA Segundo analistas, o avanço nas vendas também evidencia a perspectiva de retomada da atividade econômica a partir do terceiro trimestre, junto com uma esperada recuperação no setor industrial, e reforça a expectativa de que o ciclo de queda da taxa de juros está chegando ao fim. O mercado ainda está dividido sobre os próximos passos do Banco Central, que reduziu a Selic para 7,5 por cento em agosto, e indicou que se houver espaço para nova redução, ela será feita com máxima parcimônia. "Apesar de esse ser um bom dado, o que o BC está olhando é a produção industrial. O que ele vai fazer é o que chamou de máxima parcimônia, então pode fazer um corte de 0,25 ponto ou parar por definitivo", afirmou o economista da Austin Rating Rafael Leão. Em junho, as vendas subiram 1,6 por cento na comparação com maio de acordo com dados revisados, depois de o IBGE ter divulgado anteriormente alta de 1,5 por cento. Na comparação entre junho deste ano com o mesmo mês do ano passado, o dado também foi revisado para apresentar agora avanço de 9,4 por cento, ante 9,5 por cento divulgado anteriormente. VENDAS DE AUTOMÓVEIS RECUAM No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, foi registrada queda de 1,5 por cento em julho ante junho devido a um recuo nas vendas de veículos> na comparação com julho do ano passado, a alta foi de 10,2 por cento. O setor de Veículos e motos, partes e peças mostrou recuo de 8,9 por cento em julho depois de subir 23,9 por cento em junho. "Na margem, houve uma antecipação de compras com o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) menor. Mas há notícias também de que faltaram alguns modelos para atender à demanda por carros novos", afirmou o economista do IBGE. Segundo o IBGE, oito das dez atividades pesquisadas tiveram resultados positivos na comparação mensal. Os principais destaques foram Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (9,7 por cento); Tecidos, vestuário e calçados (2,4 por cento); Combustíveis e lubrificantes (1,2 por cento); e Material de construção (1,0 por cento). Móveis e eletrodomésticos, outro segmento favorecido com a redução de IPI, registrou o segundo crescimento seguido, com taxa de 0,7 por cento em julho e 5,2 por cento em junho. "Houve uma demanda maior com o incentivo fiscal. Mas isso não vai aumentar eternamente. Há um limite para o consumidor", destacou Pereira. Na comparação anual, ainda segundo o IBGE, todas as atividades pesquisadas apresentaram aumento no volume de vendas, com destaque para Veículos e motos, partes e peças (16,4 por cento); Móveis e eletrodomésticos (12,5 por cento); Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (11,4 por cento); e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (11,3 por cento). "O que está por trás desses resultados são as variáveis macroeconômicas que ajudam o comércio, como a redução da Selic, que é importante para crédito e financiamentos. E o emprego continua estável e não houve nada sério no mercado de trabalho. Há uma inflação controlada que ajuda na demanda", destacou Pereira. (Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes)
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