Vídeo: Marinha usa técnica de mergulho profundo para buscar vítimas de queda de ponte que matou 17

Militares precisaram recorrer a estratégia raramente usada em rios. Corpos de Bombeiros, Polícia Federal e Transpetro também ajudam nas buscas na divisa de Tocantins e Maranhão

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Foto do author André Shalders
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A ESTREITO (MA) – As operações de busca pelos corpos das vítimas do desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO) chegaram nesta segunda-feira, 30, ao nono dia, com nove corpos já resgatados. A profundidade no trecho do Rio Tocantins entre as duas cidades é de até 48 metros, e a visibilidade dos mergulhadores é de um a três metros. Seis vítimas seguem desaparecidas.

Mergulhador se prepara para busca por desaparecidos no Rio Tocantins. Respirando por uma mangueira, ele consegue ficar por até 35 minutos no fundo Foto: Wilton Junior/ Estadão

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Ao todo, 18 pessoas foram atingidas no acidente. Só uma sobreviveu – está num hospital em Estreito, se recuperando. Das 17 restantes, 11 já tiveram o óbito confirmado pela Marinha – nove corpos foram recuperados, e dois já foram localizados, mas ainda seguem presos no Rio Tocantins. Os corpos de outras seis vítimas seguem desaparecidos.

O último corpo foi localizado na tarde de domingo, 29, com o uso de um drone subaquático. O aparelho conseguiu localizar um carro de passeio no leito do Rio Tocantins, com ao menos um corpo dentro. Os militares tentaram trazer o carro de volta à superfície até por volta das 20 horas, com flutuadores, mas não foi possível.

Ao todo, a Marinha mobilizou 87 militares para a região. Outros 20 participam remotamente do planejamento e da logística da operação desde Belém, onde está localizado o 4º Distrito Naval. O chefe do Estado-Maior do 4º Distrito, o contra-almirante Maurício Coelho Rangel, coordena os trabalhos de busca no Rio Tocantins.

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Além da Marinha, participam das buscas integrantes dos Corpos de Bombeiros de Tocantins, Maranhão e Pará, a Polícia Federal e até a Transpetro – a subsidiária da Petrobras cedeu drones subaquáticos que estão sendo usados para ajudar nas buscas.

Na sexta-feira, 27, a corporação chegou a interromper a atividade dos mergulhadores na base da ponte, depois que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) constatou que os pilares da ponte estavam se movendo. No sábado, 28, os mergulhos foram retomados.

O grupo de mergulhadores da Marinha que trabalha no local é formado por 16 militares do Rio de Janeiro e do Pará. Além disso, a equipe de mergulho inclui dois médicos especializados no atendimento aos mergulhadores e quatro enfermeiros, além dos operadores.

A plataforma montada em duas balsas de onde a Marinha organiza o mergulho para as buscas Foto: Wilton Junior/ Estadão

Nos últimos dias, a Marinha tem realizado tanto o chamado mergulho independente (com cilindro de oxigênio), quanto o mergulho dependente, no qual o militar respira por meio de uma mangueira de oxigênio ligada a um compressor, na superfície.

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Para sustentar este tipo de mergulho, a Força montou no local uma espécie de base em duas plataformas flutuantes, que contam com compressores de oxigênio, geradores de eletricidade e instrumentos para monitorar os mergulhadores.

Também conhecido como escafandrista, o mergulhador dependente tem a vantagem de ter mais tempo no fundo do rio do que aquele que usa o cilindro de oxigênio. Para auxiliar na operação, a Marinha também trouxe ao local uma câmara hiperbárica – aparelho usado tanto para fazer a descompressão dos mergulhadores quanto para tratar aqueles que se acidentaram.

O equipamento pesa cerca de 10 toneladas e chegou ao Maranhão em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Ao menos um atendimento médico teve de ser feito na câmara hiperbárica, apurou o Estadão.


Mergulhadores da Marinha do Brasil trabalham no Rio Tocantins em busca das vítimas do desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizada na BR-226 que separa o estado do Tocantins (TO) do Maranhão (MA). Foto: Wilton Junior/ Estadão

Construída nos anos 1960, a Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira tinha 533 metros de extensão. Chegou a ter o maior vão do seu tipo no mundo, na época da inauguração. A última vez que a ponte passou por reparos foi entre os anos de 1998 e 2000, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando foram acrescentadas passarelas para pedestres dos lados da pista.

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A reconstrução deve custar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões e ficar pronta em até um ano, segundo o ministro dos Transportes, Renan Filho, e o Dnit.

Sem a ponte, a rotina dos moradores e o transporte de cargas na região foram alterados. Muitos moradores de Aguiarnópolis trabalham em Estreito e dependem da cidade, que é sete vezes mais populosa. Para os caminhoneiros, o fim da ponte Juscelino Kubitschek significa uma espera de até cinco horas para pegar a balsa na cidade vizinha de Porto Franco (MA) – o preço das tarifas da balsa varia entre R$ 265 para caminhões grandes e R$ 5,50 para motos.