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Vítimas das chuvas no RS assumem linha de frente de salvamentos: ‘Estamos sem dormir’

Solidariedade que salvou muitas pessoas chega agora também aos animais, que são encaminhados para abrigos

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Foto do author Paula Ferreira
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A CANOAS - “O povo que vai salvar o povo”, a frase é dita por um dos socorristas voluntários que trabalham desde a semana passada no salvamento de vítimas da enchente histórica que atinge o Rio Grande do Sul. Depois de perder tudo, com barcos improvisados, sem estrutura e equipamentos, moradores se revezam há dias para resgatar vítimas em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Em Canoas, animais estão sendo encaminhados para um abrigo, onde são tratados Foto: Wilton Júnior/Estadão

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A dor comum, mas com a força de se manter vivo, leva homens e mulheres ao fim da rua Coronel Vicente, onde duas pequenas tendas servem de base para os voluntários, que entram na água, muitas vezes de bermuda, expostos a contaminações diversas. Por trás da força de quem tenta salvar, pessoas que também já foram salvas, como Natalino Rodrigues de Carvalho, que completou 50 anos na última quinta-feira, 9.

Ele conta que viveu momentos de desespero no último final de semana, quando a água chegou ao segundo andar da sua casa. Carvalho foi o último a sair, depois de sua mulher e as filhas serem retiradas pelo vizinho da frente.

“Eu já estava aliviado, porque sei nadar e os que não sabiam já tinham sido resgatados. Me deu uma alegria misturada com tristeza, porque pensei ‘agora se eu morrer, pelo menos vou morrer feliz, porque consegui tirar minha família daqui’”, contou Carvalho ao Estadão, antes de subir novamente no barco para ajudar a resgatar animais e levar mantimentos para famílias que se recusam a deixar as casas.

Rua Coronel Vicente serve de base para voluntários que atuam na ajuda aos resgates em Canoas Foto: Wilton Junior/Estadão

O comerciante Adão Santos conseguiu abrigar 100 pessoas e cerca de 20 cachorros no segundo andar de seu mercado até a chegada do resgate. Nesta sexta-feira, vestido com uma capa improvisada de saco de lixo, deixou o abrigo em que está alojado com a família para auxiliar nas buscas.

“Nessa rua aqui, a gente abaixava a cabeça para não bater na sinaleira”, contou, falando sobre a altura do nível da água no início da semana.

Quem se arrisca a encarar as águas da enchente encontra uma paisagem totalmente distorcida do que costumava ser a realidade. Árvores altas se assemelham a manguezais, as ruas a igarapés. Ao longo do caminho, é possível ver o teto de diversos carros que foram engolidos pela inundação. Móveis e animais mortos se espalham pela água, um enorme silêncio quebrado apenas pelos motores dos barcos de resgate. “Estamos aqui igual bicho, sem ver notícia, sem dormir, para continuar resgatando”, resume Cristiane Antunes, com olhos marejados.

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A solidariedade que salvou muitas pessoas chega agora aos animais, que são retirados a todo momento das embarcações e encaminhados para um abrigo onde são tratados. Na tenda de apoio, Rosângela Silva anota um a um os endereços de animais de estimação ilhados, ditados por seus donos que agora tentam encontrá-los. Rosângela está desde o início da tragédia prestando serviço como voluntária. Desde então, já viu cenas difíceis, como pessoas chegarem à tenda da Coronel Vicente com hipotermia, separadas de suas famílias, chorando e gritando.

“Tem uma amiga minha que não encontrou a irmã dela ainda. A gente deduziu que ela morreu”, contou à reportagem, debaixo de chuva, nesta sexta-feira.

O Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática de sua história, atingido por fortes temporais desde o último dia 29. Segundo a Defesa Civil estadual, 441 dos 497 municípios gaúchos foram impactados, e mais de 400 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas. Ao menos 126 pessoas morreram em consequência das chuvas e outras 141 estão desaparecidas.

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