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Você já viajou com uma comissária negra? Entidades buscam maior diversidade racial na aviação

Quilombo Aéreo e Fundo Baobá promovem iniciativas para formar mais profissionais negros, promovendo maior representatividade no setor

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Foto do author Vinícius Novais
Atualização:

Você já viajou com uma comissária de bordo negra? Algum piloto preto? O instituto Quilombo Aéreo atua para que mais pessoas respondam “sim” às perguntas acima.

É um desafio. De acordo com a entidade, hoje apenas 3% de um total de 14 mil pilotos comerciais ativos no Brasil são negros e não há registro de mulheres negras. No caso dos comissários de bordo, são 8% de pretos e pretas em um universo de 15 mil profissionais.

Formandos do curso de comissários de bordo oferecido pelo instituto Quilombo Aéreo Foto: Jivarlos Cruz

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Para mudar esse cenário, a principal estratégia é a educação. O grupo oferece programas de capacitação e orientação. Isso inclui cursos preparatórios e até apoio no processo de certificação e formação.

Um dos exemplos é o projeto “Pretos Que Voam”, que oferece bolsas de estudo para uma parte dos estudantes para formação de comissários de voo. A primeira turma formou 10 profissionais em uma turma presencial em Porto Alegre (RS) em 2021. Hoje, o instituto possui sua própria escola com instrutores pretos e método de ensino à distância para facilitar o acesso. O edital para a próxima edição do curso será lançado em novembro.

Outra ação importante é a mentoria para profissionais negros já formados, mas que não tiveram oportunidades em um processo seletivo na aviação. O objetivo é ajudá-los a desenvolver suas carreiras e superar barreiras impostas pelo racismo estrutural. Também oferece letramento racial para empresas da aviação e mentoria individual para comissários.

O instituto conta com uma rede de apoio de turismólogos, advogados, psicólogas, contadores e outros especialistas. A instituição obtém recursos com doações de apoiadores, apoio governamental e participação em editais voltados à equidade racial. Colaborações com escolas de aviação, universidades, ministérios e empresas do setor também facilitam o acesso de jovens negros a cursos e oportunidades de emprego.

Um dos fundadores do Quilombo Aéreo é Jivarlos Cruz, comissário de voo e professor de inglês de 36 anos. O profissional conta que o grupo começou como um coletivo de aeronautas negros e se formalizou em uma instituição que atualmente oferece cursos profissionalizantes, consultoria em pautas raciais e suporte psicológico e jurídico focado na comunidade negra na aviação.

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“A presença de negros em posições de destaque é rara, refletindo uma disparidade significativa em comparação com a composição racial da população brasileira, onde mais de 50% se identificam como negros ou pardos”, conta o co-fundador.

Fundo Baobá coloca carreiras em movimento

O sonho da sergipana Gloria Stefany, de 27 anos, é ser comissária de bordo. Ela vem de uma família de 10 irmãos e conseguiu concluir o segundo grau por intermédio do EJA (Ensino de Jovens e Adultos), fez vestibular e está no 7º período do curso de Letras na Universidade Federal de Sergipe.

Depois de ter estudado por conta própria a parte teórica do curso de comissária, ela conseguiu um apoio importante para terminar sua formação ao se beneficiar do edital Carreiras em Movimento, do Fundo Baobá, primeiro fundo brasileiro exclusivo para a promoção da equidade racial.

O recurso destinado pelo edital permite que ela pague o curso semipresencial de comissária - os testes são feitos em São Paulo. Atualmente, Gloria trabalha em um call center enquanto participa de processos seletivos de companhias aéreas. Ela já conseguiu seus certificados necessários - até cursos específicos que não são obrigatórios constam em seu currículo.

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“Falta acessibilidade estética na área. Mulheres como eu, que têm o cabelo volumoso, que é difícil de prender, têm que passar gel e fazer coques”, conta Gloria. “Demorei para me aceitar, já alisei meu cabelo. Eu aceitaria a vaga, mas sem me anular.”

O Baobá organiza editais públicos para projetos alinhados com suas diretrizes e ações e investe diretamente em projetos e comunidades. Desde sua criação, em 2011, a entidade já lançou 19 editais e apoiou 861 iniciativas nas áreas de educação, direitos humanos, enfrentamento ao racismo, desenvolvimento econômico e comunicação e memória. O número de pessoas impactadas já supera os 800 mil, principalmente no Nordeste.

“O edital é uma oportunidade de contribuir na ampliação do potencial de empregabilidade de pessoas negras, de qualquer faixa etária e que residam em qualquer lugar do País. Uma semente para o plano de desenvolvimento de quem está no início ou em uma fase mais consolidada da carreira profissional”, conta a diretora de programa do Baobá - Fundo para Equidade Racial, Fernanda Lopes.

Este conteúdo foi produzido em parceria com o Quilombo Aéreo, instituto que oferece bolsas de estudo para promover a formação de comissários de bordo negros, além de programas de letramento racial para empresas aéreas.

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