Voo Rio-Paris: ‘Absolvição da Airbus e da Air France deixa legado de destruição’, diz pai de vítima

Nelson Faria Marinho afirma estar surpreso com a decisão da Justiça francesa e aponta ‘parcialidade’

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Por Isabel Gomes
Atualização:

A decisão da Justiça francesa pela absolvição da fabricante Airbus e da companhia aérea Air France pelo acidente do voo AF447 foi recebida com surpresa por familiares das vítimas. Ao Estadão, Nelson Faria Marinho, diretor da Associação das Vítimas do Voo 447, afirmou que o legado deixado com a absolvição desta segunda-feira, 17, é de “destruição”.

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O avião fazia a rota Rio-Paris no dia 1º de junho de 2009 e caiu durante à noite, no Oceano Atlântico, vitimando 228 pessoas – entre elas 58 brasileiros. A investigação concluiu que vários fatores contribuíram para a tragédia, como erro do piloto e congelamento dos sensores externos da aeronave. A Justiça francesa absolveu as duas empresas da acusação de homicídio culposo (quando não há a intenção de matar) por considerar que não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade” segura com o acidente.

Quando os juízes leram a decisão no tribunal de Paris, foi possível ouvir soluços entre os familiares das vítimas presentes na corte.

Nelson Faria Marinho, diretor da Associação das Vítimas do Voo 447, perdeu o filho de 40 anos no acidente de 2009. Foto: Wilton Junior/Estadão

Para Marinho, há “parcialidade” na decisão em razão de o julgamento ocorrer em território francês, uma vez que a fabricante e a companhia aérea têm a França como país de origem.

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“Não esperava essa decisão. A gente sempre tem aquela esperança de que a coisa vai caminhar diferente. Eu devolvo à França a frase Charles de Gaulle, ex-presidente da França, de que o Brasil não era um país sério. A França não é séria. Esperava que eles fossem condenados. A Air France por não ter a decência de manter regularmente a manutenção no avião, e a Airbus por ter fabricado um avião assassino e continuar voando”, afirma Marinho.

Na tragédia, o representante da associação de vítimas perdeu o filho Nelson Marinho Filho, na época com 40 anos. Pelos familiares, a decisão da Justiça francesa é encarada como uma não conclusão da história. “O legado que eles deixaram foi de destruição, não só financeira, mas emocional. Você me fazendo essa pergunta hoje, parece que o acidente foi ontem. Isso vai se arrastar para o resto da vida. Eu já perdi pai, mãe, irmãos, mas a perda do filho não consigo traduzir em palavras”, afirma.

Marinho compara a decisão da Justiça francesa com a da Justiça americana, que condenou a fabricante norte-americana Boeing a pagar US$ 12 milhões aos familiares das 157 vítimas de um acidente com a aeronave 737 Max, em 2019. “Eu esperava que eles se espelhassem nessa decisão do caso da Boeing”, diz.

De acordo com o representante dos familiares, a expectativa era de que a Justiça reconhecesse possíveis problemas técnicos na aeronave, e não no piloto. Ele afirma que, enquanto esteve na França, conversou com profissionais da área, e que o que ouviu foi que o avião é “problemático”. “Vem uma decisão que o avião estava tudo correto. Não estava. Eu posso lembrar daquela noite, em que todas as companhias aéreas desviaram daquela rota, e a Air France foi. Se fala muito no congelamento das sondas de velocidade Pitot, mas quem deu defeito primeiro foi o radar, que não detectou a tempestade, e o avião foi para o chão.”

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O aposentado ainda afirma: “Nenhum piloto no mundo daria jeito, por mais que experiente que fosse”.

O sentimento de Marinho é compartilhado por outros parentes de vítimas do acidente aéreo. “Esperávamos um veredito imparcial, não foi o caso. Estamos enojados”, disse Danièle Lamy, da associação Entraide et Solidarité AF447. “Destes 14 anos de espera, nada resta além de desesperança, consternação e raiva”, acrescentou.

“Eles nos dizem: ‘Responsável, mas não culpado’. E é verdade que esperávamos a palavra ‘culpado’”, disse Alain Jakubowicz, advogado da associação.

“Não faz sentido para mim”, reagiu com a voz trêmula Ophélie Toulliou, que perdeu o irmão no acidente, compartilhando seu “sentimento de injustiça”. / COM AFP

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