O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, advertiu nesta sexta-feira que as negociações para pôr fim à crise política de três meses fracassarão a menos que os líderes golpistas que o derrubaram aceitem abrir mão do poder. Em reunião encerrada pouco após as declarações de Zelaya, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou "os atos de intimidação" do governo de facto na embaixada brasileira em Honduras, onde Zelaya está abrigado, mas não discutiu questões mais amplas sobre o futuro do presidente deposto. "Nós condenamos a intimidação contra a embaixada brasileira e pedimos a todos no governo interino de Honduras que acabem as perturbações na embaixada", afirmou a representante dos Estados Unidos e atual presidente do Conselho de Segurança, Susan Rice, depois da reunião. De acordo com o chanceler brasileiro Celso Amorim, o governo de facto, que cercou o prédio da embaixada com tropas armadas desde a chegada de Zelaya na segunda-feira, não está autorizando a entrada de alimentos à representação diplomática brasileira. Zelaya, deposto em um golpe de 28 de junho, afirmou ter se encontrado com um representante do governo de facto, mas que pouco haviam avançado nas negociações. Ele também pediu para que seus apoiadores viessem à capital para pressionar o líder do governo de facto, Roberto Micheletti, que até agora resistiu a todos os pedidos internacionais para que permitisse a volta de Zelaya ao cargo. "Exortamos a resistência para manter a luta até que juntos o povo e o presidente conquistem a queda dos usurpadores," disse Zelaya. "Não vemos nenhuma disposição por parte do governo de facto de reinstalar o presidente", acrescentou. Os Estados Unidos, a União Europeia e a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenaram amplamente a deposição de Zelaya e era certo que os membros do Conselho de Segurança da ONU aumentariam a pressão. CERCO À EMBAIXADA Após ter sido forçado pelos golpistas ao exílio, Zelaya voltou ao território hondurenho na segunda-feira e se refugiou na embaixada brasileira para evitar ser preso. Centenas de soldados e policiais de choque cercaram o complexo, onde Zelaya se abriga com a sua família e cerca de 40 apoiadores, apesar da escassez de alimentos e água. O chanceler brasileiro disse numa sessão da ONU que o impasse "representa uma ameaça à paz e à segurança de nossa região" e requereu que o governo de Micheletti respeite a soberania da embaixada. Amorim insistiu que o governo brasileiro foi surpreendido pela chegada de Zelaya, mas que "o que interessa é que ele é o presidente legítimo de Honduras." Micheletti afirma que Zelaya deve ser processado por violar a Constituição e espera permanecer no poder até que um novo presidente seja eleito em novembro e assuma o poder em janeiro. Zelaya, fazendeiro e magnata da madeira que chegou ao poder em 2006, enfureceu os líderes da oposição no Congresso e grupos empresariais do país produtor de café ao se aliar ao presidente socialista da Venezuela, Hugo Chávez. Eles agiram contra o então presidente quando ele tentou aprovar reformas constitucionais que incluíam mudanças nos limites ao mandato presidencial. A Suprema Corte ordenou a sua prisão e o Exército rapidamente o colocou no exílio. O governo de Micheletti parecia resistir à onda inicial de pressão para renunciar, mas a volta surpresa de Zelaya esta semana renovou os esforços diplomáticos para encontrar uma solução e permitir que ele conclua seu mandato. O retorno também aumentou as tensões em Honduras. Um homem foi baleado e morto em um confronto entre a polícia e partidários de Zelaya esta semana.
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