Como psicóloga clínica e pesquisadora, adoro aprender sobre a ciência da felicidade. Nada me traz mais felicidade do que estudos sobre bem-estar: como aumentá-lo, como mantê-lo, como espalhá-lo para os outros. Só tem um probleminha chato: muitos desses estudos são bobagens.
Como sabemos no que acreditar? O que realmente nos fará felizes? Vamos dar uma olhada na ciência.
A ciência da felicidade
Acadêmicos e filósofos sempre se interessaram pelo que torna uma vida boa, mas o estudo científico da felicidade decolou no fim dos anos 1990 com um novo campo chamado Psicologia Positiva. A década seguinte viu uma explosão de pesquisas sobre felicidade, com centenas de estudos sobre o tópico publicados em periódicos acadêmicos.
Por volta de 2012, a bolha da felicidade estourou. Pesquisadores de Psicologia chegaram à inquietante conclusão de que muitas de suas descobertas estavam erradas. Estudos publicados frequentemente se baseavam em práticas de publicação falhas, mas comuns. Havia p-hacking, ou manipulação de análises de dados até que resultados estatisticamente significativos fossem espremidos, e HARKing (Hypothesizing After Results are Known), ou mudança de hipóteses após o fato para corresponder aos resultados obtidos.
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Quando cuidadosamente examinadas, as descobertas não se sustentaram. Por exemplo, preparar as pessoas com estereótipos sobre os mais velhos não as faz andar mais devagar.
Tudo isso veio à tona quando um periódico altamente respeitado publicou um artigo alegando encontrar evidências de percepção extrassensorial (PES). Baseando-se em métodos estatísticos duvidosos, ele sugeriu que o comportamento das pessoas poderia ser influenciado por eventos futuros que ainda não haviam acontecido. (Para deixar claro, isso não é uma coisa real).
Novos padrões de pesquisa eram necessários.
Pré-registro para o resgate
Para acabar com p-hacking, HARKing e outros acrônimos proibidos, o campo da Psicologia entrou em uma nova era de transparência. Como parte desse movimento maior em direção à “Ciência Aberta”, um novo padrão de pesquisa é uma prática cada vez mais comum.
Ele é chamado de “pré-registro” e a ideia por trás dele é simples. Os pesquisadores tornam públicos seus planos para estudos, incluindo todas as análises que vão executar, antes de fazê-lo. Não há mais ajustes posteriores, ou relatórios seletivos de certas análises, ou alterações nos métodos estatísticos até que obtenham a descoberta para a qual formularam hipótese.
Como resultado, geralmente podemos estar mais confiantes nos resultados de estudos pré-registrados.
Não é uma solução perfeita. Transparência por si só não garante qualidade. Na pior das hipóteses, um rótulo “pré-registrado” pode ser enganoso, criando a ilusão de rigor sem a força metodológica para apoiá-lo. Os críticos do pré-registro também argumentam que ele limita a flexibilidade científica, prioriza certos métodos em detrimento de outros e cria uma carga administrativa desnecessária (e, às vezes, custosa).
Dito isso, o uso crescente do pré-registro está movendo a pesquisa em Psicologia na direção certa. Pelo menos, é o que meu ESP está me dizendo.
Como ser feliz, com base na (boa) ciência
O que acontece quando restringimos o número de estudos sobre felicidade apenas para aqueles que foram pré-registrados? O número fica muito menor.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade British Columbia revisou sistematicamente todos os estudos experimentais sobre felicidade, mas limitou sua pesquisa apenas para aqueles que foram pré-registrados. O resultado? Só 65 estudos, uma gota no oceano no mundo da pesquisa sobre felicidade. O benefício dessa abordagem, no entanto, é que ela aumenta a probabilidade de que esses 65 estudos sejam bons.
E o que esses estudos nos dizem? Como podemos ser mais felizes?
Os pesquisadores dividem os impulsionadores da felicidade apoiados por evidências em duas categorias: adição (coisas que podemos somar às nossas vidas) e subtração (coisas que podemos eliminar das nossas vidas).
Coisas para adicionar para nos tornarmos mais felizes
1. Expresse gratidão
Pense em quão grato você é por alguém em sua vida e considere dizer a essa pessoa. Em um estudo, o humor dos participantes melhorou depois que lhes foi dito para escrever uma carta de gratidão a alguém (sem enviá-la), enviar uma mensagem de texto de gratidão ou postar sua gratidão nas redes sociais.
2. Seja mais sociável
Passe um tempo se conectando com as pessoas ao seu redor. Um estudo designou aleatoriamente pessoas para conversar com um estranho durante o trajeto (em vez de suas atividades típicas de trajeto), e essas pessoas relataram estar de melhor humor durante o percurso.
3. Aja com alegria
Sorria! Um estudo mostrou que pedir às pessoas para sorrir naturalmente (por exemplo, imitando uma pessoa sorrindo em uma foto) melhorou o humor. A chave é um sorriso natural, como um estudo comumente citado que envolveu participantes mordendo canetas (para produzir um sorriso expressão facial) foram amplamente desmascaradas.
4. Faça mais coisas novas
Estamos todos sujeitos à adaptação hedônica, ou à ideia de que nos adaptamos rapidamente a experiências positivas. Uma maneira de evitar isso é injetar novidade nas experiências cotidianas. Por exemplo: um estudo designou aleatoriamente pessoas para tratar seu fim de semana como férias, resultando em melhor humor e maior satisfação quando retornaram ao trabalho na segunda-feira. Outro estudo - com toda a seriedade - designou pessoas para criar “óculos de mão” ao assistir a um vídeo pela terceira vez, tornando a experiência mais nova e aumentando o prazer.
5. Ajude os outros
Nós nos sentimos mais felizes quando escolhemos gastar dinheiro com os outros, como por meio de presentes ou doações. Quando as pessoas são designadas aleatoriamente para gastar dinheiro consigo mesmas ou com alguém necessitado, aquelas que gastam o dinheiro com os outros relatam melhor humor depois.
Coisas a subtrair para nos deixar mais felizes
1. Reduza o uso desagradável do tempo
Faça menos coisas que você não gosta. Um estudo deu aos participantes US$ 40 para gastar em uma compra que economizaria tempo (por exemplo, pagar alguém para fazer tarefas domésticas). Em outro fim de semana, deram aos participantes US$ 40 para gastar em uma compra de material. Quando os participantes fizeram a compra para economizar tempo, se sentiram menos pressionados pelo tempo e, consequentemente, mais felizes.
2. Reduza o uso de smartphones e mídias sociais
Como alguém que estuda o impacto de smartphones e mídias sociais na saúde mental, sei em primeira mão que essa pesquisa é complicada. As evidências sugerem que a redução do uso não aumentará a felicidade por si só, mas é mais provável que isso aconteça quando aumenta nossa participação nas situações sociais ao nosso redor e quando se estende por um período maior (um mês vs. um dia).
Esta não é uma lista abrangente. A desvantagem dessa abordagem de pesquisa é que ela deixa de fora muitos estudos, alguns deles de alta qualidade. Décadas de pesquisa, por exemplo, apoiam os benefícios do exercício, do sono, do tempo gasto na natureza e muitas outras intervenções. Elas podem ser eficazes para aumentar a felicidade, mas há poucos (se houver) experimentos pré-registrados provando isso.
Com o tempo, o corpo de pesquisas rigorosas e pré-registradas sobre felicidade crescerá. Por enquanto, o melhor que podemos fazer é seguir esta lista e, caso contrário, fazer as coisas do jeito antigo: sem uma boa ciência para nos guiar.
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