O Dia D, 6 de junho, representa o início do fim da Segunda Guerra Mundial, quando houve o desembarque dos Exércitos Aliados nas praias da Normandia, em 1944. No mês que marca os 80 anos desse acontecimento, a Universidade de Oxford divulgou mais de 25 mil documentos e fotos digitalizados do conflito, que estavam escondidos em acervos pessoais de moradores ingleses.
Documentos como cartas, fotos, mapas, entre outros objetos. Esses arquivos retratam memórias e experiências daqueles que viveram o conflito. O trabalho da Universidade coletou também alguns itens raros e inusitados, como um mapa ultrassecreto do Dia D, um barógrafo (instrumento usado para medir a pressão atmosférica) de um iate de Hitler e até um pedaço do primeiro avião alemão derrubado em solo britânico.
Segundo a instituição britânica, o arquivo possui uma grande variedade de histórias e objetos. O projeto “Their Finest Hour” trabalhou com centenas de voluntários, que ajudaram na realização de mais de 70 eventos em 2023 e 2024 para coleta dos materiais.
Mais de 2 mil pessoas participaram dos eventos, chamados “Dias de Coleta Digital”, contribuindo com suas histórias e lembranças da guerra para que fossem registrados e digitalizados pelos voluntários. As pessoas que não conseguiram participar dos eventos e tinham arquivos para serem compartilhados puderam enviar as histórias e documentos pelo próprio site do projeto.
“O sucesso do projeto não teria sido possível sem o esforço de milhares de voluntários e colaboradores dedicados. Graças aos seus esforços, conseguimos criar um ‘arquivo popular’ da Segunda Guerra Mundial, que mostra tanto os objetos extraordinários como os do cotidiano daqueles que viveram a guerra”, disse Matthew Kidd, gerente de projeto na Universidade de Oxford.
Os Dias de Coleta ocorreram em todas as regiões do Reino Unido. Esses eventos foram realizados em bibliotecas, escolas, faculdades, universidades, museus, igrejas, mesquitas e templos. Vários deles foram realizados em colaboração com grandes instituições, como o National Memorial Arboretum, a Biblioteca do Holocausto de Wiener e o Museu Nacional da Marinha Real.
A universidade ressalta que os arquivos e o conteúdo podem ser visualizados e compartilhados gratuitamente, para garantir que as histórias e experiências do passado auxiliem para a investigação e a educação.
Barógrafo de Hitler
A história do instrumento do líder nazista é curiosa. Um colaborador do projeto da Universidade de Oxford relatou que o avô, Ernest Fisher, foi capitão da Marinha britânica durante a 2ª Guerra Mundial. Em maio de 1945, foi capturado o iate estatal alemão que Hitler planeava navegar pelo rio Tâmisa, na Inglaterra, até Windsor, onde iria instalar o seu quartel-general, caso a invasão alemã à Grã-Bretanha fosse bem-sucedida.
“O capitão da Marinha convidou o meu avô a subir a bordo do iate e falou para ele levar uma recordação. Ele escolheu o barógrafo e começou a utilizá-lo nas suas muitas viagens que fez depois pelo mundo”, contou Stuart McLeod. “Assim, 40 anos após a sua morte, temos uma peça do iate de Hitler guardada num armário; uma peça histórica única e valiosa que, de outra forma, permaneceria inédita e, portanto, desconhecida.”
Mais memórias e relatos de mulheres na guerra
O trabalho traz, inclusive, experiências do ponto de vista feminino sobre a guerra, com base em registros de mulheres que entraram para a força aérea, por exemplo, para participar dos combates.
Os objetos e histórias de cada um deles destacam a contribuição que as mulheres deram durante a guerra, seja nas Forças Armadas ou como trabalhadoras de munições, donas de casa, mães, trabalhadoras agrícolas ou enfermeiras.
Todos os arquivos do projeto podem ser consultados online pelo site da Universidade: https://theirfinesthour.english.ox.ac.uk/.
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