RIO - O Brasil faz parte agora do seleto grupo de dez países que formam a elite da matemática mundial. A União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês) aprovou a entrada do País no Grupo 5 - o topo do ranking mundial, formado pelas nações mais desenvolvidas na pesquisa da matéria. São eles: Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia. Trata-se do primeiro país do Hemisfério Sul a alcançar tal posição, feito notável depois de um período de cortes no orçamento da ciência.
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A candidatura do Brasil ao grupo 5 foi apresentada no ano passado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) ao organismo internacional que congrega as sociedades matemáticas de todo o mundo. Atualmente, 76 países são membros da IMU, criada em 1920 para promover a cooperação científica global. Os países se distribuem em cinco grupos por ordem de excelência.
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O Brasil ingressou na IMU em 1954, no Grupo 1, e, em seis décadas, chegou ao topo do ranking, o Grupo 5. A mudança de grupo é determinada após análise de informações como número e qualidade de programas de pós-graduação, volume de publicação de estudos, nomes em destaque na área, entre outros critérios.
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"O fato de o Brasil estar agora ao lado dos países de maior expressão e relevância na matemática global representa o reconhecimento da qualidade da pesquisa feita no País", afirmou o diretor-geral do Impa, Marcelo Viana, ao anunciar a conquista. "E mostra que, na matemática, é possível alcançar o sucesso em seu mais alto nível estudando no País: agora é que não podemos mesmo ter complexo de vira-latas."
De fato, nos últimos 40 anos, entre 1976 e 2016, o volume de estudos matemáticos no País saltou de 0,4% da produção mundial para 2,3%. Nesse meio tempo, o Brasil conquistou, em 2014, uma medalha Fields, considerado o Nobel da Matemática, para o pesquisador do Impa Artur Avila. Também vai sediar este ano a Olimpíada Internacional de Matemática, em julho, e o Congresso Internacional de Matemáticos, em agosto.
Além do reconhecimento internacional, o fato de estar no Grupo 5 rende ao Brasil, por exemplo, no congresso, mais influencia em discussões como as políticas científicas para os países em desenvolvimento e decisões estratégicas sobre investimentos. Os especialistas dizem que a ascensão brasileira deve ajudar a desmistificar a matemática entre as crianças e jovens, até hoje tratada como uma das matérias mais temidas na escola.
"Temos que transformar isso em efeito positivo sobre os jovens", disse Viana. E brincou. "Temos que matar de vez esse bicho-papão; ele não tem proteção ecológica."
Os matemáticos Jacob Palis, o mais premiado do Brasil, e Artur Ávila, vencedor da Medalha Fields, protestaram contra os cortes do orçamento da ciência. Atualmente, o investimento equivale a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, contra 2,5% na China e 4% na Coreia do Sul.
"Um aumento do porcentual do PIB para a ciência é imprescindível; estou absolutamente convicto disso", afirmou Jacob Pális. "Todos os países do mundo que mais avançaram foram justamente os que investiram mais em ciência."
Artur Avila concordou com seu professor.
"Não podemos esquecer que, às vezes, neste País, a ciência é tratada como luxo: que o orçamento da ciência é o primeiro a ser cortado num momento de crise", disse Avila. "É bom lembrar que existem áreas da ciência em que sem recursos básicos não se pode fazer nada: na matemática, contamos essencialmente com as nossas cabeças."
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