Registro de campo magnético de 3,7 bilhões de anos dá pistas sobre formação de vida na Terra

Pesquisadores descobriram a partir de rochas encontradas na Groenlândia que campo magnético de 3,7 bilhões de anos atrás tinha força parecida com o atual

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Foto do author Ramana Rech

Pesquisadores de Oxford, no Reino Unido, e do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), nos Estados Unidos, encontraram evidências de que o campo magnético da Terra existe há pelos menos 3,7 bilhões de anos. O estudo, que buscou dados na Groenlândia, pode fornecer pistas para a formação de vida na Terra.

O campo magnético é um dos fatores que tornaram o planeta habitável. Esse mecanismo protege a vida de radiação prejudicial vinda do espaço e ajuda a manter os oceanos e a atmosfera estável por longos períodos de tempo.

Autores do estudo perfuram pedra para retirar amostras Foto: MIT News/Claire Nichols

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Estudos anteriores haviam mostrado que o campo magnético tinha, no mínimo, 3,5 bilhões de anos. A adição de mais 200 mil anos a essa data indica que o campo magnético pode ter tido papel crítico em tornar a Terra habitável, já que esse é o período que cientistas calculam para o surgimento da vida.

Estudiosos suspeitam que a força do campo magnético há bilhões de anos possibilitou uma atmosfera capaz de sustentar a vida e protegeu o planeta da radiação solar.

Os cientistas também concluíram que o campo magnético da Terra tinha quase a mesma força que o atual. A magnitude da Terra Antiga era de 15 microtesla e a de hoje é de 30 microtesla. O estudo foi publicado nesta semana na Revista de Pesquisa Geofísica: Terra Sólida.

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Segundo uma das autoras da pesquisa, Claire Nichols, apesar da força ser metade, ainda é a mesma ordem de magnitude. “O fato de que (o campo magnético) é similar em força ao de hoje indica que o que está direcionado o campo magnético da Terra não mudou massivamente em termos de poder em bilhões de anos”, diz.

Para chegar a esses resultados, os pesquisadores analisaram 308 amostras de rochas coletadas em duas expedições, uma delas realizadas no meio de 2018, e outra de 2019.

Eles precisaram se deslocar para um lugar remoto, cujo acesso é possível apenas com o helicóptero, o Cinturão Supracrustral de Isua, na Groenlândia. O objetivo era assegurar que as rochas estivessem preservadas e inalteradas desde sua deposição.

Garantir que as amostras tenham assinaturas tão antigas da magnetização é um desafio, porque eventos térmicos tendem a apagá-las.

Mas, nesse caso, os pesquisadores perceberam que o ferro se cristalizou há 3,7 bilhões de anos e, embora as peças tivessem esquentado novamente em outras duas ocasiões, esses eventos não foram suficientes para mudar a magnetização delas.

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Como se forma o campo magnético?

Uma das rochas com 3,7 bilhões de anos encontrada na regiãodo Cinturão Supracrustal de Isua  Foto: MIT News/Claire Nichols

Hoje, a geração do campo magnético ocorre por meio de um fluido em movimento no núcleo externo do planeta, que é líquido. Isso resulta em correntes elétricas capazes de gerar linhas do campo magnético.

O movimento de rotação da Terra também ajuda a esticar e torcer essas linhas. Esse mecanismo se estende ao redor do planeta como uma bolha protetora.

Os resultados encontrados também trazem à tona novas perguntas sobre como a Terra antigamente teria sido capaz de formar um campo magnético tão robusto. Há 3,7 bilhões de anos, o núcleo interno – que potencializa a força do campo magnético – ainda não havia se solidificado. Isso indica que existem outras formas de criar um campo magnético, inclusive para outros planetas.

Leia o estudo completo na Revista de Pesquisa Geofísica: Terra Sólida.

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