Lugares com maior volume de chuva costumam ter maior diversidade de espécie de mamíferos, anfíbios e aves. Dos tetrápodes – grupo de vertebrados que exclui peixes – a ressalva para esse padrão são os répteis. Assim como os anfíbios, esse animais dependem de temperaturas elevadas para viver.
Os achados são de pesquisa coordenada por um pesquisador da Universidade de Tel Aviv e que teve a participação de vários cientistas do mundo, inclusive da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados foram publicados na revista Zoological Society of London em dezembro de 2023.
De acordo com o estudo, uma das áreas com maior biodiversidade é a Bacia Amazônica – na região dos Andes – e o nordeste da floresta tropical. Outras localidade que também merecem destaque são a América do Sul, os Grandes Lagos Africanos e boa parte do Sudeste da Ásia.
No caso do Andes, a riqueza de animais foi propiciada pelas diferenças de altitude, que os obriga a adquirir diferentes características para sobreviver e também a biodiversidade.
O relevo acidentado somado a enorme diversidade da Floresta Amazônica propiciou um ambiente único de riqueza de espécies, como explica um dos autores do estudo e professor do Instituto de Biociência da USP, Márcio Martins. “No Brasil, a diversidade mais alta de anfíbios é na Serra do Divisor, no Acre, que está a 200 km do Andes”, exemplifica Martins.
Mas a mesma diversidade não foi encontrada nas altitudes acima de 4 mil metros do Andes, já que o frio dificulta a sobrevivência dos animais.
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Por que os animais estão em regiões com mais chuva?
Aves e mamíferos fazem parte do grupos dos animais endotérmicos, por isso, mantêm a temperatura corporal com o calor gerado pelo próprio corpo. Assim, esses animais conseguem viver tanto em lugares quentes quanto frios. Por outro lado, como estão o tempo todo produzindo calor, precisam de comida de forma contínua e em alta quantidade para sobreviver. E a chuva traz impactos significativos na disponibilidade de alimentos.
Mesmo sem capacidade de produzir calor pelo próprio corpo, já que são ectotérmicos (animais de “sangue frio”), os anfíbios tiveram a maior correlação com a presença de precipitações. Eles dependem de água e umidade para realizar atividades e processos fisiológicos essenciais para sua existência.
De todos os tetrápodes, o único em que a relação de diversidade de espécies e precipitações não foi registrada foi a dos répteis. Esse grupo também é ectotérmico, ou seja, tem maior vulnerabilidade às temperaturas do ambiente. Mas conseguem vivem em condições de seca.
“Os répteis têm o corpo coberto de escamas. Então, eles não perdem água para o ar”, explica o professor. Ele diz que, por isso, os répteis são bastante presentes na Austrália, onda há grandes desertos.
Diferença de latitude e diversidade
Muitas hipóteses consideram que o principal fator para a biodiversidade entre os tetrapódes é a distância da área em relação à Linha do Equador. No caso, quanto mais perto da região do planeta, maior o número de diferentes espécies.
No entanto, segundo o artigo, as regiões mais próximas ao Equador correspondem àquelas de maior temperatura e pluviosidade, o que faz com que haja mais biodiversidade. Os pesquisadores argumentam que, mesmo em latitudes com a mesma distância da Linha do Equador, a diversidade de tetrápodes é maior no hemisfério sul.
A porção sul do globo conta com temperaturas mais altas nas latitudes meridionais, o que resulta em uma área de oceano maior do que a do norte. Além disso, áreas áridas são muito mais extensas no norte.
Leia o estudo completo na revista Zoological Society of London.
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