Por volta dos 45 anos de idade ocorrem muitas transformações, transições e crises na vida da maioria das pessoas, principalmente por conta da metanoia, época marcada por transformações fundamentais no pensamento e no caráter dos indivíduos devido às novas demandas e pela busca de novo sentido e significado existencial. No caso das mulheres, outros aspectos somam-se às mudanças hormonais e corporais, incluindo transformações da estrutura familiar com a saída dos filhos e desejos de se sentirem produtivas, pertencentes, entre outras demandas. A consequência desse momento, quando não existe uma atitude consciente e diligente diante desta crise, é o surgimento de uma infinidade de transtornos e queixas físicas, psíquicas e afetivas, acompanhadas de excessos comportamentais envolvendo temáticas com vários tipos de dependências, abusos ou compulsões, depressões e muitos transtornos ginecológicos.
É importante deixamos claro que toda crise pode ser uma oportunidade. Ou seja, dependendo da maneira que a pessoa enfrentar a mudança surgirá resultados muito distintos, dos mais positivos até os mais negativos, construtivos ou destrutivos, prazerosos ou dolorosos. Enfim, os resultados dependerão do estado de consciência e de autoconhecimento de cada pessoa. É neste sentido que as mulheres, na crise da meia idade, podem escolher conscientemente se irão assumir, em suas novas personalidades, mais aspectos da imagem arquetípica da bruxa ou da rainha. A bruxa tem um perfil de personalidade histriônica, impaciente, ressecada e rígida, com desejos de vingança e poder, devido seus sentimentos de exclusão e de infertilidade. A rainha, por sua vez, exercerá sua autonomia com liberdade e criatividade, pois ela sabe que pode reinar e gerir livremente a sua vida, principalmente agora que se libertou das regras ou dos incômodos menstruais.
Porém, para que a mulher da meia idade assuma sua dimensão rainha, ela não pode ficar identificada exclusivamente com as imagens arquetípicas das deusas Hera, Demeter ou Perséfone, respectivamente representadas pela esposa, mãe ou filha - atribuições unilaterais ainda impostas pela nossa atual sociedade patriarcal, patrimonialista e machista. Da mesma forma, não pode negar ou contrapor essas funções, indo para o extremo oposto, ficando desfeminilizada, assumindo características mais competitivas, testosteronicas e masculinas.
Porém, infelizmente, o que mais notamos é que a maioria das mulheres acaba ficando aprisionada em um conjunto de papeis, empobrecendo suas vidas e sofrendo o ressecamento de toda sua potencialidade integrativa e criativa. Com isso, desenvolvem uma infinidade de sintomas de adoecimento que, para serem curados, necessitam de uma integração de cuidados que vão desde as intervenções, químicas ou cirúrgicas, até um profundo processo de autoconhecimento. Só assim elas poderão, conscientemente, assumir seus papéis de rainhas, transcendendo evolutivamente a crise da meia idade, reconhecendo que a bruxa, geralmente, é a fada que foi ou se sentiu excluída de algum contexto existencial.
Concluo deixando explícito que toda mulher, na sua essência imanente, deseja liberdade e autonomia para estabelecer seus vínculos e até sua maternagem, que pode ser exercida em qualquer situação, independente da filiação biológica ou adotiva, pois o potencial materno e criativo é preponderantemente feminino.
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