Escavações iniciadas em maio deste ano no sítio arqueológico de Puente Tablas, em Jaén na Espanha, desenterraram o mais antigo palácio ibérico em Andaluzia já descoberto, com cerca de 2500 anos de idade.
A construção desencavada é o núcleo central de um complexo palaciano que inclui outros edifícios. Pertencente a um príncipe de Puente Tablas, começou a ser construído no século 5 a.C. e levou cerca de 200 anos para se apresentar com a estrutura encontrada atualmente.
O palácio possui 400 metros quadrados de planta com partes bem diferenciadas. A primeira e mais nobre se ordena em torno de um pátio, no formato aproximado de quadrado ladrilhado. Nesta área, duas colunas privilegiam um espaço reservado ao norte e uma série de pilares separa a parte ocidental da oriental do edifício. Supõe-se que a divisão espacial marcaria funções muito distintas, públicas a oeste e privadas a leste, uma característica encontrada frequentemente em construções palacianas do Mediterrâneo antigo.
Um vestíbulo pavimentado ao sul do edifício daria acesso aos visitantes e suavizaria a diferença de altura do piso entre o pátio e a porta. No canto noroeste do palácio, um segundo pátio seria um espaço de culto com uma cela situada ao fundo e na qual um bétilo - pedra sagrada - marcaria o acesso diretamente a partir da rua, embora se conectasse no interior com o resto do edifício. Um sistema de canais feitos de pedra, finalmente, faria a água circular no interior da casa em direção a um pequeno reservatório e para fora.
Ao sudeste, um segundo corpo retangular se anexava ao edifício central, pelo menos na fase mais tardia do século 3 a.C., por três naves que se fechavam ante um poderoso muro exterior. Este segundo corpo atenderia às funções relacionadas aos serviços do palácio, como mostra a presença de silos, bandejas, fornos e canais de água entre outros objetos.
O palácio foi construído sobre alicerce de pedra e levantado com adobe e taipa. Cal e gesso eram os materiais comumente utilizados nas paredes, da mesma forma que o estuque vermelho destacaria o cuidado no tratamento de suas superfícies. Os azulejos e a pintura vermelha seriam também largamente empregados no revestimento habitual do piso.
Segundo Arturo Ruiz, do Centro Andaluz de Arqueologia Ibérica (CAAI) da Universidade de Jaén e uma das três pessoas responsáveis pelas escavações, o oppidum - assentamento pré-romano - é importante, não apenas em si, mas também por possuir "uma das melhores fortificações ibéricas já conhecidas". Com a descoberta deste palácio "se dá um salto qualitativo no que se refere ao conhecimento da vida ibera".
O oppidum de Puente Tablas era uma cidade fortificada que se estendia por mais de 50 quilômetros quadrados e devia ter, em seu apogeu no século 4 a.C., em torno de mil habitantes. O assentamento tem uma grande história que começa com um povoado de cabanas ao fim do século 9 a.C., segue com a construção da fortificação e da assimilação da casa de planta quadrangular no século 7 a.C. e continua com o desenvolvimento de um urbanismo muito regular de ruas paralelas e perpendiculares a partir do século 6 A.C., caracterizando, por sua cultura material, o início da cultura ibérica no território da cidade de Jaén. Posteriormente, no final do século 4 a.C., o lugar foi abandonado e a população transferiu-se para a serra de Santa Catalina, iniciando o desenvolvimento da cidade de Jaén. Mas o oppidum foi recuperado em meados do século 3 a.C., devido à guerra entre romanos e cartagineses, durante a Segunda Guerra Púnica. No final deste mesmo século, a fortificação seria abandonada definitivamente.
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