Cientistas brasileiros descrevem fóssil de lagostim pré-histórico achado na Antártida

Crustáceo viveu há 75 milhões de anos, uma época em que não havia gelo no continente

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Foto do author Roberta Jansen

RIO - Cientistas apresentaram nesta quinta-feira,13, uma nova espécie de lagostim pré-histórico, que viveu há 75 milhões de anos na Antártica--- uma época em que não havia gelo por lá. Publicada hoje na "Polar Research", a pesquisa é assinada por especialistas do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens/URCA, do Museu Nacional/UFRJ, da Universidade do Contestado e da Universidade Federal do Espírito Santo. Os fósseis foram encontrados em uma expedição realizada pelo Projeto Paleoantar, em 2016, na Ilha de James Ross, na Península Antártica.Tratam-se de dois espécimes que foram classificados no gênero Hoploparia em uma nova espécie, H. echinata.

Fóssil descobertona Antártica aponta para nova espécie de lagostim desconhecida até então Foto: Museu Nacional

“Apesar de não ter representantes atuais, fósseis desse gênero de lagostim foram encontrados em camadas de diferentes partes do mundo, em um total de 67 espécies", explicou o diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens/URCA, Allysson Pinheiro. "Entretanto, no continente Antártico, eram conhecidas, até o momento, apenas três espécies, sendo esta uma nova, procedente da Ilha James Ross.” Os pesquisadores acreditam que o animal, semelhante a outros lagostins, deveria cavar tocas e ser um predador de emboscadas, por causa de sua pinça. Essas pinças, grandes e fortes, podiam ser usadas inclusive para capturar peixes. Além disso, a pinça espalmada e ampla, facilitava a escavação de sua toca. Estima-se que o animal viveu no Período Cretáceo, há cerca de 75 milhões de anos. “A descoberta dessa nova espécie de Hoploparia certamente não será a única do grupo. Em 2018, os pesquisadores estiveram por 50 dias no The Naze (parte da ilha James Ross), onde foram coletados dezenas de fósseis de lagostas e outros crustáceos que estão em estudo", contou o paleontólogo Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ. "Certamente, em breve, teremos mais novidades sobre esse grupo de animais que viveram na Antártica durante o período Cretáceo.” As rochas onde foram encontrados os fósseis sugerem que o animal vivia em ambientes marinhos rasos, com fundo arenoso. A Ilha James Ross, em um período entre 70 a 80 milhões de anos atrás era muito diferente da que conhecemos hoje. Naquele momento, a área estava coberta por um mar raso habitado por tubarões, répteis e corais e tinha uma temperatura mais elevada do que as registradas atualmente. A grande “quebra” do Gondwana, na porção sul do supercontinente Pangeia, já havia acontecido, mas a distribuição dos continentes e as correntes marinhas, ainda eram bem diferentes do que conhecemos atualmente. “Vale ressaltar que o conhecimento geológico da Antártida é muito recente, faz apenas 200 anos que o ser humano chegou ao continente, e apenas 40 anos que brasileiros fazem pesquisas por lá", ressaltou o geólogo Luiz Carlos Weinschutz, do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado. "Por ser recoberta por uma espessa camada de gelo permanente (98%), sendo comum as condições climáticas adversas, o acesso tem logística complicada e cara. Tudo isso dificulta o desenvolvimento de pesquisas em terras austrais; muito já se fez, mas ainda temos muito para fazer.”

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