Cientistas da Amazônia registram animal de pelagem rara com armadilha fotográfica; veja vídeo

Mamífero foi avistado em cidade de Roraima e impressionou pesquisadores, que esperam que descoberta impulsione políticas de conservação

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Por Felipe Medeiros
Atualização:

Boa Vista (RR) — Uma irara, mamífero onívoro da família das ariranhas e das lontras, foi avistada com uma condição extremamente rara conhecida como leucismo, que resulta em uma pelagem branca. O padrão habitual de coloração do pelo desse animal é marrom. O flagrante foi registrado por uma armadilha fotográfica instalada na Área de Reserva Legal do Instituto Federal em Caracaraí, sul de Roraima.

O animal foi visto pela primeira vez pelo estudante de agronomia do IFRR, Gabriel da Silva Oliveira, de 34 anos. “Tive que me deslocar para fazer um trabalho em uma propriedade vizinha e esse animal atravessou a estrada em um momento muito rápido”, detalhou. “Depois disso, começamos a realizar o monitoramento em toda Área de Reserva Legal do Instituto”.

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Após meses de registros imprecisos, as imagens mais claras sobre qual animal se tratava e a análise foram divulgadas no sábado, 17, no Instagram do projeto Roraima Silvestre. Segundo Gabriel, em dezembro de 2023, quando tiveram as primeiras fotos e vídeos “não era possível identificar com clareza a espécie, ele passou tão rápido pelas câmeras que a única coisa filmada foi a sua cauda”.

A descoberta impressionou os pesquisadores. No total, 14 pessoas participam da pesquisa, dentre eles profissionais das ciências Agrárias, Biológicas, Educacionais e Humanas, além de estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio e do curso superior em Agronomia.

A espécie branca foi registrada por câmera trap — uma armadilha fotográfica acoplada a árvores Foto: Armadilha fotográfica/IFRR

O coordenador do projeto, Rafael de Sousa, doutor em ciências e professor de Manejo e Criação de Animais Silvestres no IFRR, disse que não há registros deste animal com essa condição.

“É uma sensação de grande emoção devido à possibilidade de contribuir com a divulgação científica de um fenômeno natural raro em iraras que habitam o bioma amazônico, especialmente o de Roraima, que tem sempre revelado grandes surpresa para nós”, comemorou Sousa.

  • A irara é comumente encontrada na região amazônica, mas sua pelagem usualmente apresenta tonalidades escuras.
  • O leucismo do animal difere do albinismo. No primeiro, a pigmentação está ausente, de forma parcial ou integral na pele, mas presente nos olhos; na segunda condição, há a completa ausência de pigmentação no corpo e os olhos apresentam-se vermelhos.

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A espécie branca foi registrada por câmera trap — uma armadilha fotográfica acoplada a árvores. “Os próximos passos serão aumentar o número de câmeras na área onde encontramos a irara leucística para acompanhar o comportamento dela e quem sabe conseguirmos identificar outras com essa característica, além de compreender as causas dessa mutação e a implicações desse fenômeno na ecologia da espécie”, informou o pesquisador.

As câmeras camufladas trazem praticidade para os pesquisadores, possibilitam o levantamento, inventário e a análise comportamental dos animais em seu ambiente natural de forma minimamente invasiva.

Além da irara branca, foram registrados felídeos de grande e médio porte, como a onça-pintada, onça-parda e jaguatirica. O projeto também identificou aves mais restritas ao extremo norte do bioma amazônico, como acamim-de-costas-cinzentas (Psophia crepitans) e mutum-do-norte (Pauxi tomentosa). O registro do tatu-canastra também foi uma surpresa para a equipe.

Rafael espera que as descobertas feitas pelo projeto possam contribuir para a implementação de políticas de conservação e manejo ambiental em Roraima. “Com o monitoramento, também é possível avaliar o grau de sucesso das políticas e ações ambientais, além de garantir transparência à sociedade sobre as reais condições ambientais em Roraima”, concluiu.

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