Cientistas descobrem crocodilo ‘focinhudo’ que viveu com dinossauros em SP; veja como era

Nova espécie foi descrita por pesquisadores da Unesp a partir de fósseis encontrados na região de Catanduva

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Um crocodilo focinhudo e bom nadador viveu entre os dinossauros há 65 milhões de anos no atual interior de São Paulo. A nova espécie, batizada de Epoidesuchus tavaresae, foi descrita por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) a partir de fósseis encontrados na região de Catanduva, norte do Estado. O trabalho foi publicado na edição de agosto da revista científica The Anatomical Record.

A pesquisa foi feita durante o mestrado de Marcos Vinícius Queiroz, orientado pelo professor Felipe Chinaglia Montefeltro, do Departamento de Biologia e Zootecnia da Unesp. Queiroz examinava fósseis de crocodilos no Museu de Paleontologia de Monte Alto, quando uma mandíbula chamou sua atenção.

Reconstituição do ambiente em que viviam os crocodilos no período Cretáceo. Foto: Guilherme Gerh

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“O fóssil estava descrito como sendo da espécie Pepesuchus, mas a mandíbula era 50% maior do que a dessa espécie. Vimos também que havia diferença na junção do crânio com a mandíbula. Foi aí que nos ocorreu que poderia se tratar de uma nova espécie”, disse ao Estadão.

Até ser examinado pelo pesquisador, o material não tinha recebido muita atenção. Descoberto durante obras na SP-351, conhecida como Rodovia da Laranja, em Catanduva, em 2011, o fóssil foi levado para o museu e classificado como sendo da espécie do outro grupo de perossaurídeos, também de hábitos aquáticos, mas predominantemente terrestres. Os perossaurídeos, porém, tinham focinho mais curto, como o dos cachorros atuais.

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Queiroz dispunha para análise da parte superior do crânio, parte do focinho e da mandíbula, que estava bem preservada. “Logo vimos que este tinha um crânio maior, a mandíbula mais alongada, afinada e com uma projeção mais horizontal, tudo compatível com hábitos aquáticos. Ele era um espécime de focinho longo e tubular, quase como um cano”, disse.

O focinho mais longo e fino sugere que o animal, embora de porte grande, entre 3 e 4 metros, era mais frágil, sem condições de competir em ambiente terrestre, segundo o pesquisador. “Na água, certamente ele tinha mais facilidade para pegar o peixe para se alimentar.”

A mandíbula era maior do que a de outras espécies, sugerindo um animal de vida aquática. Foto: Marcos Queiroz/Divulgação

Parentes ancestrais dos crocodilos e jacarés, os crocodiliformes dominavam uma área do Brasil conhecida como Bacia Bauru, convivendo com dinossauros gigantes, como os pescoçudos titanossauros. “Podemos considerar que, dentro do grupo de crocodiliformes, em alguns momentos, houve uma transição para um hábito aquático e o Epoidesuchus tavaresae é um dos representantes desse grupo”, disse Montefeltro.

O docente lembra que a maior parte dos crocodiliformes encontrados na chamada Bacia Bauru eram tipicamente terrestres. ”A gente conseguiu perceber que mesmo entre os terrestres haviam alguns que tinham hábitos aquáticos. O ecossistema que a gente tinha aqui, no oeste paulista, era dominado pelos crocodiliformes, embora houvesse dinossauros também. De um modo geral era um ambiente mais seco, uma coisa semiárida, mas com locais pontuais com mais água”, disse.

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Queiroz acrescenta que, nessa paisagem quase desértica, haviam regiões onde se formavam grandes bolsões de água, como se fossem oásis no meio da paisagem árida. “Era próximo dessas bacias que os animais se concentravam e muitos tinham hábitos aquáticos. Foi aí que provavelmente viveram os espécimes do Epoidesuchus”, disse.

O nome escolhido remete a “crocodilo mágico”, do grego antigo, e faz analogia com o apelido de Catanduva, conhecida como a “cidade feitiço”. O tavaresae é uma homenagem a Sandra Tavares, paleontóloga do museu de Monte Alto, para onde foram levados os fósseis descobertos.

Queiroz lembra que, naquela época, os crocodilos estavam divididos em dois grupos e um deles, aquele ao qual pertenceria a nova espécie descrita agora, foi extinto junto com os dinossauros. O outro grupo sobreviveu. “Sempre que a gente descreve uma nova espécie, é mais uma peça no quebra-cabeça de como se deu a evolução de um grupo. A gente consegue melhorar os estudos de como era a ecologia da época e trazer para hoje. O que leva uma espécie a ser extinta e outra a sobreviver?”, questiona.

Para Montefeltro, a maior contribuição da paleontologia para nossos problemas atuais, como o das mudanças climáticas, é entender como as extinções ocorreram no passado e comparar com o que a gente está vivendo hoje. “Descrever uma nova espécie, entender que a diversidade era maior e que naquele período haviam diferentes espécies, isso é importante para compreender e refletir o que acontece hoje. É um tijolinho que vai contribuir para esse entendimento.”

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Também participaram do estudo e assinam o artigo na The Anatomical os pesquisadores Juan Ruiz, Kawan Martins, Pedro Godoy, Fabiano Iori, Max Langer e Mario Bronzati.

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