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Cientistas descobrem novo fenômeno parecido com El Niño: como isso afeta ao Brasil?

Considerado um novo ‘interruptor’ do clima, fenômeno começa perto da Austrália e Nova Zelândia, e se espalha por todo o Hemisfério Sul

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Por Milena Félix

Cientistas descobriram um novo padrão climático emergindo do Oceano Pacífico Sudoeste subtropical — perto da Austrália e Nova Zelândia — e se espalhando por todo o Hemisfério Sul. Chamado de Onda Número 4 do Padrão Circumpolar do Hemisfério Sul, ou SST-W4 , o fenômeno tem sido comparado ao El Niño, por ter uma formação semelhante.

Já haviam sido percebidos padrões de flutuação na temperatura das águas do Pacífico Sudoeste subtropical, mas essa foi a primeira vez em que foi possível simular e compreender o fenômeno. O estudo foi publicado no Journal of Geophysical Research: Oceans, e utilizou um modelo acoplado de última geração chamado SINTEX-F2, que simulou 300 anos de mudanças climáticas.

Ilhas Whitsunday, na Austrália; descoberta pode auxiliar o entendimento do clima global. Foto: Adriana Moreira/Estadão

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Com isso, os pesquisadores consideram que identificaram um novo “interruptor” no clima mundial, que pode ajudar a explicar os últimos acontecimentos climáticos no Hemisfério Sul. Além disso, as novas descobertas podem embasar previsões climáticas mais precisas.

A climatologista Karina Lima explica que a descoberta pode auxiliar o entendimento do clima global. “Apesar de acontecer em uma área relativamente pequena do oceano, o fenômeno parece ter grande influência no clima do Hemisfério Sul e, consequentemente, do planeta. Logo, entendê-lo vai nos ajudar a compreender melhor o complexo sistema climático terrestre”, diz ela, doutoranda pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Como acontece o fenômeno

Embora a área que desencadeia o SST-W4 seja pequena, o fenômeno provoca reação em cadeia global, afetando todo o Hemisfério Sul. O estudo também evidencia que mudanças no oceano impactam diretamente todo clima global.

O SST-W4 começa com aquecimento da temperatura da superfície do mar, gerando um padrão de onda com quatro centros positivos alternados (W4) na atmosfera, o que cria um círculo completo ao redor do Hemisfério Sul. Depois, essas ondas atmosféricas interagem com a superfície do oceano, trocando calor.

A partir dessas interações, os ventos do oeste transportam o fenômeno, de forma que mudanças na direção do vento criam oscilações de temperatura ao longo do sul global.

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Os cientistas ainda não conseguiram prever os impactos que esse novo fenômeno pode causar na temperatura do planeta, afirmando serem necessários novos estudos. Porém, eles preveem mais facilidade para entender o clima do planeta com a nova descoberta.

Relação com o El Niño

O SST-W4 tem sido comparado ao El Niño e ao seu oposto, La Niña, uma vez que também resulta de movimentações entre o oceano, a atmosfera e os ventos oceânicos.

Apesar disso, o novo fenômeno não depende dos demais, e cientistas estimam que ele já existisse, só ainda não havia sido descoberto. Além disso, o SST-W4 tem origem diferente, mais ao Sul que os outros dois fenômenos climáticos.

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O El Niño, ou Oscilação Sul do El Niño (Enso) é uma mudança periódica no sistema de ventos no Pacífico Tropical, aumentando a temperatura de todo o planeta. O evento climático acontece, aproximadamente, a cada cinco anos, mas pode estar sendo acelerado e intensificado pelo aquecimento global.

“Este padrão tem algumas características parecidas com o Enso, mas acontece em outra região do oceano e não depende dele. O que se sugere até então é que esse padrão climático já existia e que foi descoberto agora, mas precisamos de mais estudos para entendê-lo melhor”, comenta a climatologista Karina Lima.

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