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Como microplástico pode afetar espermatozoides de cachorros e humanos? Pesquisa busca respostas

Um estudo encontrou microplásticos em todos as amostras de testículos de seres humanos e cachorros; resultados trazem preocupação para saúde reprodutiva

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Foto do author Ramana Rech

Uma pesquisa conduzida na Universidade do Novo México detectou presença de microplásticos em todas as amostras de tecidos de testículo de cachorros e seres humanos. Os resultados encontrados se somam a uma preocupação crescente sobre a saúde reprodutiva.

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Em estudo publicado na revista Toxicological Sciences neste mês, pesquisadores encontraram 12 tipos de microplásticos diferentes presentes nos 34 cachorros e 23 humanos testados.

O estudo também correlacionou certos tipos de plástico com uma contagem de espermatozoides reduzida nos cães.

Metais pesados, pesticidas e químicos que afetam o sistema endócrino tem resultado em um declínio global na contagem e qualidade de espermatozoides de seres humanos nos últimos anos.

Os microplásticos são partículas minúsculas, com menos de cinco milímetros de diâmetro. Eles são eliminados a partir de materiais plásticos comuns Foto: Werther Santana/Estadão - 20/2/2017

De acordo com estudo publicado na revista Human Reproduction Update, o número de espermatozoides caiu pela metade nas últimas quatro décadas.

Os microplásticos são partículas minúsculas, com menos de cinco milímetros de diâmetro. Eles são eliminados a partir de materiais plásticos comuns. Estão no ar, na água e no solo a partir da decomposição de garrafas, embalagens, tinta e outros produtos feitos de plástico.

Um estudo publicado neste ano e produzido na mesma universidade se debruçou sobre a presença de microplásticos em placentas humanas. A partir dele, os pesquisadores encontraram o minúsculo polímero em todas amostras estudadas. O resultado levantou preocupações, visto que o órgão tem apenas oito meses de idade, um tempo curto para acumular microplásticos.

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Inspirado pela pesquisa anterior, o professor do departamento de enfermagem da Universidade do Novo México, Xiaozhong Yu, começou a pensar o que mais poderia ser investigado. Ele utilizou o mesmo método do estudo anterior, dessa vez, em testículos.

A equipe utilizou um tratamento químico para dissolver a gordura e a proteína. Em seguida, as amostras foram colocadas para girar em um ultra centrifugador. A ação deixou um pedaço de plástico no fundo de um tubo. O polímero foi esquentado em um copo de metal a 600 ºC.

Com um espectrômetro de massa, eles analisaram os tipos de plástico na amostra a partir das temperaturas em que cada um se tornava gás.

A concentração de microplásticos encontrada nos testículos humanos foi três vezes maior do que nos cachorros. Esse número também foi superior a concentração média de microplásticos em placentas observado na pesquisa anterior.

Nos cachorros, a média foi de 122,63 microgramas por grama de tecido (micrograma equivale a um milionésimo de grama). Já nos seres humanos, o valor foi de 329,55 microgramas por grama.

O polímero mais prevalente nos humanos e nos cachorros foi o polietileno (PE), utilizado para produzir sacolas e garrafas.

Microplásticos e espermazoides

A decisão de comparar os tecidos caninos com os humanos está ligada ao compartilhamento do mesmo ambiente por cachorros e pessoas. Os dois também compartilham algumas características biológicas.

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A espermatogênese dos cachorros, por exemplo, é mais parecida com a dos seres humanos do que outros animais. A contagem de espermatozoides dos cães também parece estar caindo. Os pesquisadores acreditam que seres humanos e cachorros têm fatores ambientais em comum que contribuem para o declínio.

Os pesquisadores descobriram que o segundo polímero com maior concentração nos testículos dos caninos, o PVC, está associado a uma contagem de espermatozoides menor. Esse plástico é empregado na fabricação de encanamentos, por exemplo. No caso dos seres humanos, os estudiosos não conseguiram realizar a contagem de espermatozoides.

Segundo o professor Xiaozhong Yu, o PVC pode liberar muitas substâncias químicas que interferem na espermatogênese e agem como disruptores endócrinos, bloqueando a ação dos hormônios.

O autor do estudo destaca que a idade média das pessoas de quem o tecido foi coletado era de 35 anos. Ou seja, a exposição começouu quando havia menos plástico em circulação. “O impacto na geração mais jovem pode ser mais preocupante”, diz Xiaozhong Yu.

Ainda faltam pesquisas que explorem como os microplásticos afetam os espermatozoides em seres humanos e, se essas substâncias, são um dos fatores que explica a redução em sua quantidade.

O estudo completo pode ser lido na Toxicological Science.

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