Um buraco negro no centro da galáxia Andrômeda está entre os que mais “comem quietos” no universo. Essa galáxia é uma das mais próximas à Via Láctea, onde está localizada a Terra.
Quando os buracos negros engolem gás e poeira, o material se aquece antes de cair. Isso cria shows de luzes às vezes até mais brilhantes do que uma galáxia cheias de estrelas. O brilho do evento varia conforme o tamanho do material engolido.
Mas o buraco negro na Andrômeda não emite muita luz e seu brilho não tem grandes variações. Isso sugere que o objeto cósmico consome pequenos mas constantes fluxos de gás e poeira, em vez de grandes aglomerados. A corrente de alimentos se aproxima do buraco negro aos poucos e em espiral, como a água corre em direção a um dreno.
Imagens capturadas pela Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa), por meio do Telescópio Spitzer Space, mostram fluxos de poeiras de milhares de anos-luz na galáxia de Andrômeda indo em direção ao seu centro, onde está o buraco negro.
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Esses objetos celestes são grandes concentrações de matéria acumuladas em pequenos espaços. Com grande densidade, eles atraem para o seu interior até mesmo luz.
Usando modelos de computadores, cientistas da Alemanha, Espanha e Chile conseguiram simular como gás e poeira nas proximidades de Andrômeda podem se comportar com o tempo. Os resultados foram publicados na revista The Astrophysical Journal em agosto do ano passado.
A simulação demonstrou que um pequeno disco de gás quente poderia se formar perto do buraco negro massivo, o alimentando de forma contínua. O disco, por sua vez, seria reposto por numerosos fluxos de gás e poeira.
Essas correntes precisam ter um tamanho particular e uma taxa de fluxo. Caso contrário, a matéria iria cair no objeto cósmico de forma irregular, o que provocaria variações no brilho e maior emissão de luz.
Ao comparar os novos dados com as imagens obtidas pelo Spitzer, eles notaram que as espirais de poeira registradas cabiam dentro dos critérios estabelecidos pela simulação. Com isso, concluíram que que as espirais estão alimentando o buraco negro de Andrômeda.
O fluxo já havia sido capturado pelo telescópio Spitzer, lançado em 2003 e agora aposentado. Mas até então seu significado não era reconhecido.
“Esse é um ótimo exemplo de cientistas reexaminando dados de arquivo para revelar mais sobre as dinâmicas de galáxias ao comparar com as últimas simulações de computador”, diz coautora no estudo de 2023 e astrofísica do Instituto de Astrofísicos das Ilhas Canárias e do Observatório Universitário de Munique.
Leia a pesquisa na The Astrophysical Journal.
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