Conheça o tataravô dos dinossauros, o Venetoraptor, que tem bico de aves e garras afiadas

Fóssil descoberto no Brasil ajuda a entender evolução dos grandes répteis da era mesozoica; trabalho foi capa da prestigiosa revista ‘Nature’

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

Um novo fóssil descoberto no Brasil lança luz sobre a anatomia, biologia e evolução dos precursores dos dinossauros e dos pterossauros. O trabalho, assinado por pesquisadores brasileiros, argentinos e americanos, é capa da revista Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, nesta quarta-feira, 16.

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O fóssil foi encontrado no território do Geoparque Quarta Colônia, em São João do Polesine, em 2022, no Rio Grande do Sul, pelo paleontólogo Rodrigo Temp Muller, da Universidade Federal de Santa Maria. A nova espécie recebeu o nome de Venetoraptor gassenae e apresenta uma combinação incomum de um bico típico de aves predatórias com patas dianteiras desproporcionalmente grandes e munidas de garras longas e afiadas.

O pequeno réptil de aproximadamente um metro de comprimento viveu há cerca de 230 milhões de anos e pertencia a um grupo extinto de répteis chamado Lagerpetidae. Os animais desse grupo são considerados os parentes mais próximos dos pterossauros — os répteis voadores que compartilhavam a Terra com os dinossauros. Diferentemente dos pterossauros, no entanto, o Venetoraptor não era um animal alado.

Venetoraptor, pequeno réptil de aproximadamente 1 metro de comprimento, viveu por volta de 230 milhões atrás Foto: Maurílio Oliveira

O bico incomum antecede o de alguns dinossauros em cerca de 80 milhões de anos. Nas aves modernas, bicos semelhantes têm funções como rasgar a carne ou de consumir frutas muito duras. Ao lado das grandes garras em forma de foice, o bico era usado em presas. Além disso, as garras o ajudavam a escalar árvores. O animal pesava de 4 a 8 quilos e adotava uma postura bípede, deixando as patas dianteiras livres para caçar ou escalar.

“É o tipo de descoberta que muda paradigmas”, afirmou Rodrigo Temp Muller. “Combinando dados de percursores de pterossauros e dinossauros depositados em diferentes coleções do mundo conseguimos acessar e quantificar a incrível diversidade de formas desses animais. Ao fazermos isso, fomos capazes de comparar essa diversidade com aquela dos dinossauros e pterossuros, o que nos mostrou que a diversidade dos precursores foi muito maior do que imaginávamos, ultrapassando até mesmo a dos dinossauros.”

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O paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional/UFRJ, que também participou do estudo, destacou que as descobertas na paleontologia realizadas com base em fósseis brasileiros têm impactado cada vez mais a ciência.

Descoberta do Venetoraptor lança luz sobre a anatomia, biologia, ecologia e evolução dos precursores dos dinossauros e dos pterossauros. Foto: Maurílio Oliveira

“Esse novo trabalho descrevendo um pequeno réptil que está numa posição próxima a dos répteis voadores e não muito distante dos dinossauros nos mostra o quanto ainda temos a descobrir no nosso País e que pode nos ajudar a entender um pouco mais da evolução desses animais fantásticos que dominaram a era mesozoica”, disse Kellner. “A importância pode ser medida pelo fato de o estudo ter sido escolhido como capa de uma das principais revistas científicas do mundo, a Nature”.

O nome Venetoraptor significa o raptor do Vale Vêneto, uma localidade turística do município gaúcho onde foi encontrado. Já o gassenae é uma homenagem a Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das criadoras do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia, onde se encontra atualmente o fóssil.

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