Grandes meteoros e asteroides já caíram sobre a Terra em momentos do passado, causando danos de variadas escalas. Em algum momento, esse choque de intensidade desconhecida poderá acontecer de novo. E é isso que a missão Dart (Teste de Redirecionamento de Duplo Asteroide, em inglês) busca entender como evitar.
Nesta segunda-feira, 26, a Nasa vai realizar um teste em que coloca uma sonda do tamanho aproximado de uma caixa d’água de mil litros para colidir com um asteroide de 160 metros de diâmetro, o Dimorphos. O objetivo é causar alterações na órbita do objeto, testando uma forma de defesa contra ameaças à Terra.
A diferença de tamanho entre a sonda e o asteroide pode parecer grande, mas, para que algum impacto seja feito, o mais importante é a velocidade dos dois corpos. “A gente não precisa alterar completamente a órbita. Para que seja possível fazer um estudo, é preciso mexê-la só um pouquinho”, explica Alexandre Zabot, astrofísico e professor do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Uma missão com a mesma estrutura — o uso de uma sonda para colidir com um corpo celeste — foi realizada pela Nasa em 2005, mas com um objetivo diferente. A Impacto Profundo queria saber mais sobre as estruturas internas dos asteroides e, para isso, causou um impacto que fez com que parte dele explodisse no espaço.
No caso da Dart, o asteroide que será atingido, o Dimorphos, é uma pequena lua que orbita o asteroide Didymos, no Sistema Solar. A espaçonave da agência espacial estadunidense vai atingi-lo a uma velocidade de seis quilômetros por segundo esperando causar alguma mudança na órbita do objeto.
“O objetivo é saber se vamos ter condições de desviar tanto a órbita de um corpo desses que esteja em rota de colisão com a Terra que ele deixe de ser um risco. Ainda não existem dados suficientes para saber se a gente consegue fazer isso”, esclarece Dinah Moreira Allen, diretora do Planetário do Carmo.
O teste oferece algum risco para a Terra?
Segundo os especialistas, o teste da Nasa não oferece nenhum risco para a Terra, já que os dois asteroides estão localizados a quase trinta vezes a distância da Lua até o nosso planeta. Além disso, a não ser que algum equipamento da espaçonave falhe de forma muito drástica, é improvável que o objetivo de influenciar a órbita do Dimorphos não seja atingido.
“Ele só precisa que a sonda realmente consiga colidir com o asteroide, então mesmo que vá um pouquinho para um lado, um pouquinho para o outro, é muito improvável que isso não aconteça”, reforça Zabot.
Segundo a diretora do Planetário do Carmo, o impacto visível que pode vir da realização do teste é o levantamento de poeira e outros materiais da superfície do corpo celeste.
O Dimorphos e o Didymos foram escolhidos para o teste devido à posição que se encontram em relação à Terra; ao mesmo tempo em que estão posicionados muito além da Lua, estão dentro do alcance dos telescópios disponíveis para o monitoramento do espaço sideral.
“Atualmente eles (os dois asteroides) não oferecem nenhum risco para a Terra, e é preciso ter precisão na tomada de dados; então, o corpo não pode ser distante a ponto de ser muito difícil de observar. Vai ser uma alteração pequena, que precisa ser medida com precisão”, pontua Dinah.
Por que a missão é importante?
Estima-se que, todos os dias, toneladas de matéria de asteroides caiam do espaço sobre o planeta. Embora sejam quase sempre objetos pequenos, um que tenha mais de um metro de diâmetro já é capaz de chegar ao solo e causar algum tipo de dano, chance que cresce conforme aumenta o tamanho do corpo em questão — o do meteoro apontado como o responsável pela extinção dos dinossauros, por exemplo, tinha cerca de dez quilômetros.
O astrofísico ressalta que embora não haja previsão de uma colisão no futuro próximo, atualmente não contamos com uma forma concreta de impedir que um asteroide grande se choque com o planeta.
A missão Dart é uma forma de testar uma das possibilidades consideradas, a mudança da trajetória do objeto. Outras são tentar explodi-lo ou acoplar a ele uma sonda que possa, com um mecanismo de propulsão, empurrá-lo para mais longe.
No que diz respeito à defesa da Terra, Alexandre destaca que, além de realizar esse tipo de teste, é preciso aumentar o monitoramento do espaço para buscar identificar novos asteroides e não sermos “pegos de surpresa”. Principalmente porque, como refletem pouca luz, eles podem passar despercebidos pelos radares.
“A maior parte dos objetos que estão no espaço é desconhecida e toda semana vários novos são descobertos, o que quer dizer que a qualquer dia a gente pode descobrir um objeto realmente perigoso que esteja em rota de colisão com a Terra”, justifica.
Na teoria, para conseguir desviar um asteroide de forma bem-sucedida, é preciso agir enquanto ele ainda está longe. Um pequeno empurrão representa um pequeno desvio de velocidade no começo, que precisa de tempo para se transformar em um grande desvio no final.
Asteroides que causaram danos
Na história mais recente, duas colisões de asteroides chamam a atenção. Em 1908, um meteoro que tinha de 50 a 60 metros de diâmetro caiu próximo ao Rio Podkamennaya Tunguska, na Sibéria (Rússia). Uma área de mais de 2 mil quilômetros quadrados foi atingida e mais de 80 milhões de árvores foram derrubadas.
Havia poucos habitantes na região e uma cratera resultante do impacto nunca foi encontrada, o que indica que o asteroide tenha se desintegrado ainda na atmosfera. Ainda assim, uma explosão de 12 megatoneladas foi registrada e o ocorrido ficou conhecido como o incidente de Tunguska.
Em 2013, um asteroide próximo da Terra (NEA, do inglês Near-Earth Asteroid) de aproximadamente 20 metros adentrou a atmosfera terrestre em uma área ao sul da Rússia.
O meteoro de Cheliabinsk gerou uma luz muito forte, além de uma nuvem de gás quente e poeira e pequenos meteoritos. O impacto registrado foi semelhante ao de uma explosão de 400 kg de TNT e danificou mais de 7 mil prédios da região. Cerca de 1.500 pessoas procuraram atendimento médico após a explosão, principalmente por ferimentos indiretos como os causados por vidro que foi estilhaçado com o calor emitido.
Segundo Dinah, os asteroides próximos da Terra costumam ser grandes e potencialmente perigosos pois podem um dia entrar em rota de colisão, mas, assim como o teste da Nasa, não precisam gerar pavor. “A porcentagem desses objetos potencialmente perigosos é muito pequena perto de todos os outros asteroides que estão por aí. É bom tranquilizar as pessoas, porque por enquanto nós não corremos risco”, completa.
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