Egito vai expor tesouro de Tutancâmon em novo museu perto das pirâmides

Com 490 mil metros quadrados, o Grande Museu Egípcio será o maior complexo dedicado a uma única civilização e deve ser inaugurado ainda este ano

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Foto do author João Ker
Atualização:

Para celebrar os 100 anos desde que a tumba de Tutancâmon foi descoberta no Vale dos Reis, o Egito pretende inaugurar ainda neste ano seu Grande Museu Egípcio, uma enorme estrutura na saída de Cairo, em Gizé, e ao lado das famosas pirâmides. No total, o espaço tem 490 mil m². É nele que os 5.398 itens encontrados com o rei-menino serão expostos, por completo, ao público.

O museu será o maior complexo do mundo dedicado às descobertas arqueológicas de uma única civilização e começou a ser construído ainda em 2005. Seu projeto é assinado pelo escritório irlandês de arquitetura Heneghan Peng. Além de todas as “coisas maravilhosas” enterradas com Tutancâmon, o espaço terá mais de 100 mil relíquias da história egípcia, passando desde os períodos faraônicos aos “mais modernos” da Grécia e Roma antigas.

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Entre as relíquias do Rei Tut que estarão disponíveis ao público, um dos destaques é a máscara funerária encontrada em seu sarcófago, feita com ouro puro entrelaçado de pedras preciosas como obsidiana, quartzo e lápis lazúli. Esta última foi levada do Afeganistão ao Egito e apenas a sua presença já indica sinais de uma relação comercial milenar entre os dois países.

“Há tanta informação em um único anel que é possível criar uma tese inteira de doutorado”, observa o arqueólogo Thomas Stella, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP). Ele aponta que, apesar de ser menor do que outras encontradas na região do Vale dos Reis, a tumba de Tutancâmon tornou-se a mais importante da história, por ter sido encontrada praticamente intacta, exceto pelos indícios de que foi saqueada logo após o sepultamento do faraó, há mais de 3 mil anos.

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Segundo a crença egípcia, os mortos carregam tudo o que precisam para viver no outro plano, o qual seria similar à vida na Terra. Logo, a tumba do Rei Tut foi abarrotada com jóias, vestes, sandálias, roupas íntimas, brinquedos, jogos de tabuleiro, tronos, utensílios, armas etc.

Nos últimos anos, análises apontaram ainda que uma adaga encontrada no túmulo foi forjada com uma lâmina de meteorito, o que pressupõe uma tecnologia de derretimento do ferro bem mais avançada do que se esperava para a Idade do Bronze. São tantos tesouros que, na época em que a tumba de Tutancâmon foi escavada, o Egito começou paralelamente a endurecer suas leis sobre propriedades descobertas no país. “Antes, quem pagava a escavação levava tudo embora”, explica Stella.

Por reparação histórica e também investimento na indústria do turismo, um dos pilares da economia do país africano, o Egito agora quer incrementar o acervo do museu com peças e artefatos descobertos na região, mas expostos hoje em outros países. “Hoje, nada pode sair de lá e o que está fora vão pedir de volta. Mas não é algo simples, precisa de um convencimento diplomático. A Unesco (órgão ligado às Nações Unidas) faz a medição desse tipo de coisa, mas a tensão existe e é um assunto de política internacional”, diz o arqueólogo.

A Pedra de Roseta está entre as relíquias que o Egito pretende retomar. Hoje parte da coleção do Museu Britânico, em Londres, ela foi descoberta por tropas napoleônicas em 1799, próxima ao Rio Nilo, e sua superfície é repleta de hieróglifos gravados. Foi graças a ela que, um século antes de Tutancâmon ser encontrado, o linguista francês Jean-Francois Champollion conseguiu decifrar o que os símbolos egípcios significavam. Com isso, abriu o caminho para inúmeras descobertas arqueológicas que persistem até hoje.

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Pedra de Roseta foi crucial para o entendimento dos hieróglifos antigos. Foto: Museu Britânico
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