Elevação dos oceanos no século 20 foi a maior dos últimos 3 mil anos

Pesquisa internacional aponta que mares subiram 14 centímetros entre 1900 e 2000, mais que o dobro do que teria ocorrido sem o aquecimento global; projeção para 2100 é de até 130 centímetros

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A elevação do nível dos oceanos no século 20 foi a maior dos últimos 3 mil anos, de acordo com um estudo internacional publicado nesta segunda-feira, 22, na revista científica PNAS. 

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De acordo com o estudo, os mares subiram 14 centímetros entre 1900 e 2000. Sem o aquecimento global, segundo os autores, o nível mundial da elevação dos oceanos teria aumentado menos da metade ao longo do século 20. 

Um outro estudo publicado na PNAS simultaneamente por cientistas alemães, mostra que, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam reduzidas rapidamente os oceanos deverão subir entre 50 e 130 centímetros até o fim do século 21.

Mar invade avenida na Ponta da Praia, em Santos, em 2011.Novo estudo mostra que elevação do nível dos oceanos no século 20 foi a maior dos últimos 3 mil anos. Foto: Leandro Amaral

"A elevação no século 20 foi extraordinária no contexto dos três últimos milênios - e a elevação nas últimas duas décadas foi ainda mais rápida", disse o autor principal do estudo internacional, Robert Kopp, do Departamento de Ciências Planetárias da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos.

Para realizar o trabalho, os pesquisadores utilizaram uma nova abordagem estatística desenvolvida nos últimos dois anos e meio por Kopp e dois pós-doutorandos de sua equipe - Carling Hay e Eric Morrow - e por Jerry Mitrovica, professor da Universidade Harvard, também nos Estados Unidos.

"Nenhum registro local é capaz de medir o nível global dos oceanos. Cada um deles mede o nível do mar em uma localidade particular, onde ele é afetado por uma variedade de processos que o diferenciam do nível global. O desafio estatístico é conseguir a média global. É isso que nossa abordagem estatística nos permite fazer", afirmou Kopp.

O estudo indica que o nível global dos oceanos diminuiu em cerca de oito centímetros entre os anos 1000 e 1400, um período no qual o planeta ficou 0,2 graus Celsius mais frio. 

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"É impactante que vejamos essa mudança no nível dos mares associada com esse leve resfriamento global", disse Kopp. Segundo ele, em comparação, a temperatura média global hoje é cerca de 1 grau Celsius mais alta que no fim do século 19.

Os cientistas compilaram uma nova base de dados de indicadores geológicos do nível do mar em pântanos, atóis de corais e sítios arqueológicos nos últimos 3 mil anos. A base de dados incluiu registros de 24 localidades em todo o mundo. A análise incluiu também 66 registros de marés dos últimos 300 anos.

"Os cenários de futura elevação dependem do nosso entendimento sobre a resposta do nível do mar às mudanças climáticas. Estimativas precisas da variabilidade do nível dos oceanos nos últimos 3 mil anos fornecem um contexto adequado para esse tipo de projeção", afirmou outro dos autores da pesquisa, Benjamin Horton, professor do Departamento de Ciências Marinhas e Costeiras da Universidade Rutgers.

Os cientistas utilizaram o estudo de reconstrução do nível global dos oceanos para calcular como as temperaturas se associam à taxa de mudança de nível do mar. Com base nessa relação, os estudo indica que, sem o aquecimento global, a mudança de nível dos oceanos no século 20 provavelmente teria ficado entre uma redução de três centímetros e uma elevação de 7 centímetros.

Projeção. O estudo coordenado por Anders Levermann, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impactos Climáticos, na Alemanha, avaliou o futuro da elevação do nível do mar. Segundo a pesquisa, o nível dos oceanos provavelmente subirá entre 50 e 130 centímetros até o fim do século, caso não se consiga uma redução rápida da emissão de gases de efeito estufa.

"Com todos os gases de efeito estufa que já foram emitidos, nós não podemos fazer com que os oceanos parem de subir globalmente, mas podemos limitar substancialmente a taxa de elevação se pararmos de utilizar combustíveis fósseis", disse Levermann.

"Estamos tentando dar aos gestores das regiões costeiras o que eles precisam para o planejamento de adaptações, seja construindo diques, desenhando esquemas de segurança para enchentes ou mapeando a retração dos terrenos a longo prazo", afirmou o pesquisador.

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Segundo Levermann, mesmo se o acordo firmado na cúpula de Paris em 2015 for implementado, a adaptação à elevação dos oceanos ainda representará um desafio. Ainda que as metas ambiciosas do acordo sejam cumpridas, os oceanos subirão de 20 a 60 centímetros até 2100. Os cientistas afirmam que tornarão disponível online a simulação computacional que produziram, para que especialistas possam utilizar as informações a fim de desenvolver ferramentas para avaliação de riscos.

"É um grande desafio, mas é mais barato que a adaptação à elevação do nível do mar sem redução - que em algumas regiões será simplesmente impossível. Se o mundo quer evitar perdas e danos enormes, é preciso seguir rapidamente o caminho pavimentado pela cúpula do clima da ONU, realizada em Paris há algumas semanas", declarou Levermann.

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