Estudioso reproduz sons dos incas, maias e astecas

Apitos e outros instrumentos sonoros tinham funções rituais e até médicas, podendo levar pessoas ao transe

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Por Redação
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Cientistas ficaram fascinados com um achado fantasmagórico: um esqueleto humano enterrado em um templo asteca com um apito de argila no formato de um crânio em cada uma das mãos. Veja também: Vídeo do trabalho de Velazquez  Mas ninguém assoprou nesses artefatos por cerca de 15 anos. Quando alguém finalmente o fez, o apito fez com que as espinhas gelassem. Se a morte tivesse um som, esse seria ele. Roberto Velazquez acredita que os astecas tocavam esse triste som dos chamados "apitos da morte" antes de serem sacrificados para os deuses. O engenheiro mecânico mexicano dedicou a vida a replicar o som de instrumentos antigos e construiu centenas de apitos, flautas e outros instrumentos descobertos em ruínas no país. Por vários anos, muitos arqueólogos que descobriam instrumentos antigos os ignoravam, considerando que fossem apenas brinquedos. Museus os relegavam aos armazéns. Mas enquanto a maior parte dos estudos e exposições se concentravam em como esses povos ancestrais se pareciam, Velazquez diz que os instrumentos dão uma rara visão de como eles soavam. "Nós temos olhado para nossos ancestrais como se eles fossem surdos e mudos", disse. "Mas eu acredito que tudo isso esteja ligado ao que eles fizeram, ao que eles pensaram." Velazquez é parte de um ramo de estudo crescente que inclui arqueologos, músicos e historiadores. Alguns médicos acreditam que os astecas usavam sons para tratar doenças. Instrumentos de barro, penas de peru, cana-de-açúcar, couro de sapo e outros materiais costumam ser encontrados perto de qualquer ruína maia. "O que estamos tentando mostrar é que, contra tudo o que dizem – que não é possível, que não há partituras, que são brinquedos - não é verdade. São instrumentos com vários usos, na guerra, na comunicação, em feitiçaria, em todo o tipo de cerimônias, para caça", diz o estudioso. Velazquez viaja por todo o país coletando detalhes sobre instrumentos antes de reconstituí-los. O estudioso já encontrou apitos que reproduzem grande parte dos sons da natureza. O próximo passo para o pesquisador é descobrir como tocá-los. Os arqueólogos que inventaram o termo apitos da morte acretidam que eles serviam para ajudar o morto em sua jornada no mundo subterrâneo, enquanto se diz que tribos emitiam sons aterrorizadores para espantar inimigos. Especialistas também acreditam que tribos pré-colombianas usavam alguns dos instrumentos para fazer com que o cérebro humano entrassem em transe para o tratamento de algumas doenças. Os apitos ancestrais poderiam guiar pesquisar sobre como sons rítmicos alteram os batimentos cardíacos e estados de consciência. Entre as réplicas de Velazquez estão aquelas que emitem uma estranha cacofonia tão forte que sua freqüência se aproxima do máximo que o ouvido humano consegue captar.

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