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Opinião|Como salvar o planeta de um asteroide

Cientistas da Nasa conseguiram, com uma sonda, alterar rota de asteroide e mostraram ser possível evitar tragédia futura; ameaças criadas pelo homem seguem um problema

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Foto do author Fernando Reinach

Faz 66 milhões de anos que um asteroide de aproximadamente 1 quilômetro de diâmetro colidiu com a Terra. A colisão foi responsável pela extinção dos dinossauros. Ninguém quer que isso se repita e provoque a extinção da humanidade. Foi por esse motivo que a Nasa criou o escritório de coordenação de defesa planetária, que mantém uma lista de todos os asteroides que podem um dia vir a colidir com a Terra.

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Hoje sabemos que nos próximos cem anos não seremos atingidos por um asteroide capaz de causar um desastre global. Infelizmente, a lista ainda não está completa para asteroides menores, capazes de provocar danos regionais. Mas de que adianta ser capaz de prever quando seremos atingidos se nada puder ser feito para evitar a tragédia? Por esse motivo foi criado, e agora testado, um programa cujo objetivo é desviar a rota de asteroides.

Para o teste, os cientistas escolheram um asteroide que estava a 11 milhões de quilômetros da Terra. É composto por dois blocos de pedra, um de 780 metros de diâmetro, pesando 523 bilhões de quilos, chamado Didymos; e outro que orbita em volta do primeiro, com 150 metros de diâmetro e 4,8 bilhões de quilos, chamado Dimorphos.

O objetivo da missão era enviar uma sonda espacial de 500 quilos, do tamanho de um frigobar, em alta velocidade (24 mil quilômetros por hora) e atingir a rocha menor bem no meio. O impacto do frigobar deveria ser suficiente para alterar a órbita da rocha menor, o que por sua vez alteraria a trajetória.

Mas a tarefa não é fácil: o frigobar possuía somente uma câmara, uma espécie de GPS capaz de direcionar a pequena espaçonave, pequenos foguetes capazes de corrigir sua trajetória, e um rádio para enviar imagens para o centro de controle aqui na Terra.

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Um foguete carregando o frigobar foi lançado em 24 de novembro de 2021. Ele demorou 9 meses para viajar os 140 milhões de quilômetros. Três meses antes da chegada, a câmara conseguiu tirar as primeiras fotos do alvo. Quinze dias antes do impacto, o frigobar soltou um pequeno satélite que ficou para trás para filmar de perto o que ocorreria. Como tudo isso estava ocorrendo muito longe da Terra, é impossível fazer os ajustes finais da rota mandando sinais da Terra (eles levam muito tempo para chegar ao frigobar).

Nasa monitora asteroides com chance de atingir a Terra Foto: Reprodução/Twitter Nasa Asteroid Watch

Assim, 4 horas antes do impacto, quando faltavam 89 mil quilômetros, um computador no frigobar assumiu o controle. E as imagens continuaram a ser enviadas. A última, enviada menos de um segundo antes do impacto, mostra o local exato, no centro do alvo, onde o frigobar colidiu. O satélite que ficou para trás enviou fotos do estrago. Uma cauda de milhares de quilômetros de poeira se formou.

O impacto ocorreu no dia 26 de setembro de 2022, às 23h14. Foi quando cientistas passaram a analisar se haviam tido sucesso, o que para eles não era atingir o alvo, mas sim demonstrar que a trajetória do asteroide tinha sido modificada.

Semana passada, em cinco trabalhos científicos, conclui-se que tiveram sucesso. A rocha menor (Dimorphos) dá uma volta completa ao redor da maior (Didymos) a cada 12 horas e o objetivo do projeto era diminuir esse tempo em 7 minutos. Essa mudança seria suficiente para alterar a rota do par de rochas o suficiente.

Os estudos detalhados indicam que o tempo da órbita foi reduzido em 33 minutos pelo impacto, que ocorreu só 25 metros distante do exato centro de Dimorphos. A mudança de rota do asteroide como um todo, causada por essa alteração no tempo de órbita da rocha menor, é tão pequena que é quase impossível medi-la diretamente, mas pode ser calculada pela mudança do tempo de órbita da rocha menor.

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Esse resultado demonstra que nós, habitantes da Terra, possuímos tecnologia suficiente para nos proteger de asteroides que se aproximem do planeta, ameaçando nossa existência. O incrível é que, apesar desse enorme feito tecnológico, a humanidade tem se mostrado incapaz de evitar a destruição gradual do nosso planeta pelo aquecimento global e por outras mudanças ambientais. Ou seja, vamos acabar desaparecendo por nossa culpa e não por culpa de asteroide.

INFORMAÇÕES: SUCCESSFUL KINETIC IMPACT INTO AN ASTEROID FOR PLANETARY DEFENCE. NATURE. HTTPS://DOI.ORG/10.1038/S41586-023-05810-5 2023 E HTTPS://EN.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/DOUBLE_ASTEROID_REDIRECTION_TEST

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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