A migração de pássaros é observada desde a antiguidade. Bandos de patos pousando nos lagos sempre chamaram a atenção. Os locais de partida e chegada são conhecidos e a maneira como os pássaros se orientam pelas estrelas durante migrações é impressionante. Sabemos como economizam energia voando em complexas formações.
Morcegos também migram, mas pouco se conhece sobre seu comportamento. São mamíferos como nós, os filhotes se desenvolvem no útero e são amamentados. Possuem um sonar com o qual emitem sons e captam o som refletido pelos objetos, o que permite que se orientem no escuro.
Quando algo entra numa sala voando, é fácil saber se é um morcego. Se ele bate nas paredes e se desespera para sair tentando atravessar um vidro, é um pássaro. Se circula pela sala sem tocar em nada e sai pela janela por onde entrou, é um morcego.
Estudar a migração de morcegos não é fácil. Eles passam o dia escondidos, se alimentam e voam de noite. Ao chegar, se escondem.
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Um dos morcegos mais estudados é o Nyctalus noctula, um morcego que se alimenta de insetos, pesa 20 gramas, e tem o tamanho de um pequeno pássaro. Faz anos que um grupo de cientistas estuda uma comunidade desses morcegos que passam o outono e o inverno na Suíça.
Eles se acasalam, e no início da primavera, as fêmeas migram mais de mil quilômetros em direção ao nordeste. As fêmeas grávidas têm seus filhotes na Polônia quando o alimento é abundante. Os filhotes crescem no verão antes de voltar à Suíça.
Apesar do comportamento dos animais nas pontas da rota ser conhecido, nada se sabia sobre a migração propriamente dita.
Agora isso mudou. Um grupo de cientistas construiu um pequeno equipamento que pesa 1,2 grama e pode ser colado nas costas desses morcegos. Ele capta a aceleração do animal, o que permite saber se ele está voando, dormindo, ou caçando e a temperatura do ambiente.
Esse minúsculo aparelho processa os dados e os transmite para uma rede de baixíssima velocidade que existe em toda Europa.
É a rede que dá suporte aos equipamentos de internet das coisas (IoT, Internet of Things), a qual estão conectados equipamentos industriais, geladeiras e outros eletrodomésticos. Como os dados são transmitidos diversas vezes por hora, é possível saber a localização dos morcegos e seu deslocamento.
Ao longo de três anos 71 fêmeas coletadas na Suíça tiveram sua migração acompanhada. Elas migram de 10 km a 300 km por noite em percursos que chegam a 1.116 km. O interessante é que elas não migram todas as noites.
Elas esperam a passagem de uma frente climática que se desloca na direção certa e então alçam voo. Com pouco dispêndio de energia, elas se deslocam por grandes distâncias. Pousam e esperam uma nova massa de ar para surfarem novamente a tempestade que se desloca.
Quando em terra, elas se alimentam ou hibernam. A hibernação reduz a velocidade de crescimento do feto no útero, o que diminui o peso que elas têm de carregar. Na verdade, é uma conta complexa: se elas esperarem muito tempo pelas correntes, podem perder parte do verão e menos filhotes sobrevivem.
Mas se voarem sem o auxílio das correntes aéreas, o que foi observado em alguns casos, elas chegam na época certa, mas despendem mais energia, perdem peso, e isso atrapalha a amamentação.
Tudo indica que surfar as tempestades é uma estratégia deliberada que permite que as fêmeas cheguem rapidamente ao destino sem gastar muita energia. Enquanto as fêmeas fazem todo esse esforço para procriar, os machos ficam na Suíça o ano todo esperando as fêmeas voltarem para copularem e as engravidarem novamente. É justo?
Mais informações: Bats surf storm fronts during spring migration. Science
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