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Opinião | Qual é o maior e mais antigo ser vivo do planeta?

Ele vive em Utah, nos Estados Unidos, tem mais de 80 mil anos e possui o tamanho de 43 quarteirões - o que o torna também o ser mais pesado da Terra

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Foto do author Fernando Reinach
Atualização:

O maior e o mais antigo ser vivo do planeta se chama Pando e vive em Utah, no Estados Unidos. Ele nasceu faz 80 mil anos, quando nossos ancestrais ainda não tinham descoberto a agricultura e vagavam pelas planícies vivendo do que conseguiam coletar e caçar.

Pando é também o mais pesado ser vivo com suas 6 mil toneladas e ocupa hoje uma área de 43 hectares (cada hectare tem 10 mil metros quadrados, o tamanho de um quarteirão). Pando é uma árvore da espécie Populus tremuloides. Ela não possui um tronco único, mas 47 mil troncos conectados a um único sistema de raízes.

Pando é encontrado na região de Utah, nos Estados Unidos Foto: Picasa

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Essa espécie de árvore, diferentemente da enorme maioria das plantas e animais, não é capaz de se reproduzir sexualmente. Ou seja, não produz sementes. Se você plantar uma muda no seu quintal, ela vai gerar uma árvore de 20-30 metros de altura que pode viver até 130 anos.

Mas muito antes disso a raiz da árvore original vai gerar um broto, que vai sair da terra ao lado do tronco original. E esse broto vai virar um novo tronco da mesma árvore.

Ao contrário da maioria das plantas, onde os brotos surgem na copa, esses brotos surgem debaixo da terra. E pelo fato desses dois troncos terem se originado da mesma raiz e, portanto, terem os mesmos genes, pertencem ao mesmo indivíduo, da mesma forma que diferentes galhos fazem parte da mesma árvore. É como se a ramificação, no lugar de ocorrer acima da superfície do solo, ocorresse embaixo da superfície, uma enorme raiz de onde saem milhares de galhos.

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No caso do Pando, que em latim significa “eu me espalho”, hoje são 47 mil troncos, um do lado do outro, cobrindo uma área de 43 hectares, todos eles originários de uma única raiz. Visto da superfície ou de um avião, Pando parece uma floresta composta por um único tipo de árvore (vide foto).

A razão que Pando não produz sementes é que a planta é triploide, tendo três cópias de cada cromossomo. Para se reproduzir sexualmente, é necessário ter um número par de cópias. A maioria dos seres vivos mais têm duas cópias. Com duas cópias, durante a divisão meiótica, somente uma cópia vai para a célula reprodutiva.

Depois, quando um espermatozoide, ou o equivalente numa planta se une ao óvulo, as duas cópias são restauradas gerando um novo indivíduo (embrião ou semente) contendo uma mistura dos genes dos dois progenitores. Com três cópias isso é impossível e a única solução é o organismo se reproduzir de modo assexuado, como ocorre com essa espécie de árvore.

Por esse motivo, em princípio todos os troncos de Pando deveriam ter exatamente o mesmo genoma. Mas o que ocorre é que, ao longo dos séculos, apesar de não haver misturas de genes como acontece durante a reprodução sexuada, algumas células do indivíduo sofrem mutações ocasionais e se um novo galho surge de uma dessas células mutadas, ele vai possuir essa nova mutação.

O que os cientistas fizeram agora foi coletar 500 amostras de folhas e raízes de diferentes partes de Pando, algumas de troncos próximos, outra de troncos, raízes e folhas muito distantes (é como coletar amostras do pé, da boca e de um dedo de uma única pessoa).

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A análise do genoma dessas amostras confirmou que Pando é um único indivíduo, mas que diferentes partes acumularam mutações. Com base na frequência dessas mutações, foi possível calcular de forma direta a idade de Pando e a conclusão confirma as suspeitas.

Pando, esse enorme exemplar da árvore Populus tremuloides, está vivendo de forma ininterrupta nessa parte de Utah faz no mínimo 16 mil anos e, no máximo, 80 mil anos. Ela é realmente o maior e mais antigo ser vivo que existe no planeta. Será uma tristeza se Pando vier a morrer devido às mudanças climáticas.

Mais informações: Mosaic of Somatic Mutations in Earth’s Oldest Living Organism, Pando.

Opinião por Fernando Reinach

Biólogo, PHD em Biologia Celular e Molecular pela Cornell University e autor de "A Chegada do Novo Coronavírus no Brasil"; "Folha de Lótus, Escorregador de Mosquito"; e "A Longa Marcha dos Grilos Canibais"

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