SOROCABA – Com o uso de novas técnicas de identificação, pesquisadores descobriram que os fósseis de um dinossauro achados há 24 anos em Cândido Rodrigues, no interior de São Paulo, são de uma espécie de titanossauro até agora inédita na paleontologia brasileira. Antes se acreditava que os ossos eram de um dinossauro semelhante aos que viveram na Argentina. A nova descoberta já permitiu que o gigante jurássico, que media cerca de 20 metros de comprimento, fosse rebatizado. O estudo, publicado no último dia 29 na revista inglesa Historical Biology, foi desenvolvido pelos pesquisadores Julian Silva Junior e Max Langer, da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, Fabiano Vidori, colaborador do Museu de Monte Alto, Thiago Marinho, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, e pelos pesquisadores argentinos Augustin Martinelli e Martin Hechenleitner. Utilizando novos dados e técnicas que surgiram recentemente, eles concluíram que o dinossauro brasileiro não era ‘parente’ de outros dinos argentinos, como se acreditou inicialmente. Na época, o animal foi reconhecido como uma espécie nova entre os Aeolosaurus, mas de um gênero já conhecido na Argentina. “Analisando as estruturas das vértebras caudais do dinossauro de Cândido Rodrigues, observamos que são distintas dos demais dinossauros de seu grupo e tais feições serviram para estabelecer um diagnóstico para propor um novo gênero”, explicou Silva Junior, autor principal do estudo publicado agora. O dinossauro ganhou um novo nome de ‘batismo’: Arrudatitan maximus, em homenagem ao professor Antônio Celso de Arruda Campos, coordenador das escavações que aconteceram entre 1997 e 98, falecido em 2015.
Segundo Julian, o Arrudatitan tinha entre 19 e 22 metros de comprimento, sendo considerado o terceiro maior dinossauro do país. O gigante pertencia ao grupo dos saurópodes, dinos herbívoros caracterizados por pescoços e caudas longos. Além do grande tamanho, esse dinossauro se destaca por ter um esqueleto leve, porém resistente para suportar o peso do animal. O paleontólogo Fabiano Iori conta que o Arrudatitan viveu há cerca de 85 milhões de anos, no período cretáceo, convivendo com dinossauros predadores, crocodilos, tartarugas e moluscos da mesma época. Conforme a diretora do Museu de Paleontologia de Monte Alto, Sandra Tavares, o estudo amplia o conhecimento sobre os fósseis de titanossauros que vivem na região. Os fósseis do Arrudatitan maximus, além de sua importância científica, estão entre as peças mais apreciadas da coleção do museu pela dimensão dos ossos. “Em breve, os fósseis poderão ser vistos pelo público em geral na reabertura do museu, logo após a estabilidade da pandemia do coronavírus”, disse.
Caçadores
Os fósseis da espécie agora identificada como inédita no Brasil foram achados pelo comerciante de frutas Ademir Frare e seu sobrinho Luiz Augusto dos Santos Frare, na época com 12 anos, moradores de Cândido Rodrigues que, nas horas vagas, se transformavam em caçadores de dinossauros. A dupla tinha o hábito de percorrer os sítios da região em busca de fósseis e, numa dessas caçadas, acharam ossos muito grandes e entraram em contato com o museu de Monte Alto.
Iori relata que as escavações revelaram uma raridade paleontológica. “Começamos a escavar e não parava de aparecer fósseis. Encontramos vértebras, costelas, partes da bacia e ossos de membros, muitos deles ainda estavam articulados, principalmente os ossos da região dos fêmures e início da cauda”, contou. O animal havia sido batizado inicialmente de Aerosaurus maximus, já que se acreditava que o grande herbívoro fosse parente dos dinossauros dessa espécie que viveram na Patagônia argentina.
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