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Ontem foram divulgados, finalmente!, os resultados de dez anos de pesquisa do Censo da Vida Marinha, o projeto que fez um pente-fino nos mares para identificar e mapear o maior número possível de espécies marinhas.
Já escrevi várias vezes sobre o Censo aqui no blog, e as fotos de bichos maravilhosos que ele trouxe das profundezas já estão circulando internet desde ontem (e podem ser vistas neste link do Estadão) ... então não vou chover no molhado. Em vez disso, vou falar sobre essa outra foto aí de cima, que não é nem de perto tão bonita quanto as de uma medusa, de um nudibrânquio ou um cardume de peixinhos coloridos, mas é, no fundo, muito mais impressionante ... se você souber para o que está olhando.
Esse é um mapa topográfico do Oceano Atlântico. Sem água! É o que você veria do espaço se toda a água do planeta evaporasse de repente, por um passe de mágica.
E vejam só que maravilha. A maioria das pessoas deve imaginar que o fundo do mar é uma grande planície de areia. Assim como pensam que a floresta amazônica é um tapete verde homogêneo.
Nada disso!
A anatomia do fundo do mar é tão heterogênea quanto qualquer paisagem na superfície. Cheia de montanhas, cordilheiras, planaltos e planícies por todos os lados. Afinal, o fundo do mar faz parte da crosta terrestre e foi moldado (e continua a ser moldado) pelas mesmas forças geotectônicas que formaram (e continuam a formar) as montanhas e as planícies na superfície dos continentes.
A única diferença é que está debaixo da água!
Aliás, como eu já mencionei dois posts atrás, 70% da superfície do planeta que antropocentricamente chamamos de Terra é coberta, na verdade, de Água. O que esse mapa produzido pelo Censo mostra claramente é que os 30% de terra firme sobre os quais vivemos nada mais é do que "a ponta do iceberg" que fica para fora da água.
As partes marrom-alaranjadas que aparecem nas bordas dos continentes são as plataformas continentais (as extensões territoriais dos continentes que ficam debaixo d'água). Notem como a largura delas varia de região para região, dependendo da topografia local.
As plataformas podem descer até algumas centenas de metros de profundidade, mas não mais do que isso. Depois delas vêm os taludes, verdadeiros precipícios submersos, de onde se despenca para milhares de metros de profundidade.
Essa coisa que parece uma espinha dorsal no meio do mapa é a cordilheira meso-oceânica do Atlântico, também chamada de "dorsal meso-atlântica". É uma cadeia de montanhas submersa formada sobre a linha onde as placas tectônicas das Américas e da África e da Europa estão se separando umas das outras.
E por fim, um exercício muito bacana e pegar o Google Earth e girar a Terra até um ponto em que o globo inteiro aparece azul, coberto pelo Oceano Pacífico ... apenas com algumas ilhotas pipocando pela superfície aqui e ali. Se um alienígena no espaço tirasse uma foto da Terra desse ângulo, ele poderia achar que o nosso planeta é totalmente coberto de água. Imagine só!
Abraços a todos.
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