Herton Escobar / O Estado de S. Paulo
(Post atualizado às 12h30 do dia 11/2)
Sabe aquele grande cataclismo, induzido pela queda de um gigantesco meteoro, que quase acabou com os dinossauros (e um monte de outras coisas), 65 milhões de anos atrás? Pois então ... Talvez você não saiba, mas uns 200 milhões de anos antes ocorreu um desastre muito pior, ainda mais cataclísmico. Foi o evento que ficou conhecido como "a grande extinção do fim do Permiano",que estima-se ter aniquilado 96% de todas as espécies marinhas e 70% de todas as espécies terrestres do planeta -- a maior extinção em massa de que se tem notícia no registro geológico da Terra. (Essas estimativas são baseadas na abundância de espécies presentes no registro fóssil antes e depois desse período.)
Acredita-se que a principal causa dessa extinção tenha sido um processo de aquecimento global (muito pior do que esse que estamos vivenciando) desencadeado por uma série de erupções vulcânicas ocorridas na Sibéria, que derramaram milhões de quilômetros cúbicos de magma sobre uma vasta área da região central da Rússia (formando as chamadas "Siberian Traps") e lançaram milhões de toneladas de gases tóxicos e do efeito-estufa na atmosfera do planeta.O clima esquentou, o oceano esquentou, a água do mar ficou ácida, e a maior parte da vida na Terra sucumbiu.(Vale lembrar que naquela época, cerca de 250 milhões de anos atrás, a configuração da superfície do planeta era completamente diferente da de hoje, com todos os atuais continentes unidos numa única massa terrestre, chamada Pangeia.)
Mas quanto tempo durou esse cataclismo? Essa é a pergunta que um grupo de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) tenta responder hoje, em um estudo publicado na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Segundo eles, a grande extinção do fim do Permiano durou cerca de 60 mil anos do início ao fim (com um margem de erro de 48 mil anos para mais ou para menos; o que significa dizer que ela durou no mínimo 12 mil e no máximo, 108 mil anos). Parece muito tempo para nós, mas é um "piscar de olhos" do ponto de vista geológico e evolutivo.
O mesmo grupo de pesquisadores, liderado pelo professor Sam Bowring, propôs em 2011 que a grande extinção havia durado menos de 200 mil anos. A nova estimativa, publicada hoje, é um refinamento desse estudo anterior, com base em técnicas mais precisas de datação dos vestígios geológicos coletados na região de Meishan, na China, onde rochas do fim do Permiano estão expostas na superfície.
O resultado, segundo os autores, dá força à tese de que as erupções vulcânicas siberianas foram as responsáveis pelo processo de extinção em massa. "Seja lá o que for que tenha desencadeado a extinção, o efeito foi muito rápido; rápido o suficiente para desestabilizar a biosfera antes que a maioria das plantas e animais tivesse uma chance de se adaptar para sobreviver", diz o autor Seth Burgess, aluno de Bowring, em um texto divulgado pelo MIT.
Golpe fatal. As causas desses eventos são sempre polêmicas, pois é muito difícil (pode-se dizer impossível) determinar com exatidão o que aconteceu milhões de anos atrás. É possível que um impacto meteórico tenha contribuído para a extinção do Permiano, agravando o efeito das mudanças climáticas iniciadas pelas erupções vulcânicas. Assim como é possível que erupções vulcânicas tenham contribuído para a extinção do fim do Cretáceo, agravando os efeitos do impacto do meteoro que aniquilou a maior parte dos dinossauros (lembrando que uma linhagem de dinos sobreviveu: a que deu origem às aves). O que foi determinante e o que foi adjuvante nesse dois eventos é um debate cataclísmico em aberto na comunidade científica.
O fato é que essas extinções em massa não ocorreram da noite para o dia, como alguns gostariam de pensar (ou de fazer você pensar). Na melhor das hipóteses, segundo esse novo estudo, a extinção do fim do Permiano ainda foi uma morte lenta e dolorosa para as espécies da época, que durou, no mínimo, 12 mil anos. Em comparação, nós, seres humanos, só começamos a influenciar o clima do planeta há pouco mais de 200 anos, com o início da era industrial. Temos muito tempo para sofrer ainda! Ou fazer alguma coisa a respeito ... Imagine só!
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