Aos 34 anos, Jessica Watkins se tornou a primeira mulher negra a participar de uma missão de longa duração na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), onde está há mais de três meses e seguirá por mais três. Ela pode vir a ser a primeira mulher a pisar na Lua nos próximos anos e, talvez, até em Marte, em um futuro mais distante. Em entrevista concedida à agência de notícias AFP diretamente da ISS, ela foi questionada sobre qual dos dois destinos preferia: “O que vier primeiro”, respondeu rindo.
As missões do programa Apollo, enviadas entre a década de 1960 e 1970, levaram apenas homens brancos à Lua. A Nasa, agência espacial americana, busca mudar essa imagem com o envio não só da primeira mulher, mas também da primeira pessoa negra. “Será um passo importante para a agência, para o país e também para o mundo”, ressaltou Jessica Watkins. “A representatividade é importante. É difícil se tornar algo que você não vê”.
Ela integra a equipe de 18 astronautas designados para o programa sucessor do Apollo, Artemis, que busca estabelecer uma presença humana permanente na Lua – que poderia ser usada para viagens a Marte. Uma primeira missão não tripulada deve decolar no fim do mês em direção ao satélite natural.
Quem é Jessica Watkins
Geóloga, cientista e astronauta, como ela mesma se define, Jessica Watkins nasceu em Gaithersburg, no subúrbio de Washington, cresceu no Colorado e estudou geologia na Califórnia. Como parte de uma bolsa de pós-doutorado, ela trabalhou para a Nasa na missão do rover Curiosity, que acaba de completar 10 anos em Marte. Assim, o planeta entrou em seu coração e ela chegou a publicar um estudo científico sobre ele enquanto estava em órbita, na ISS.
Foi em uma de suas primeiras aulas de geologia, sobre acreção planetária – processo em que corpos sólidos se fundem para formar corpos maiores e, posteriormente, planetas – que se apaixonou por geologia planetária, ciência que estuda a composição e a formação das estrelas. "Percebi que era o que eu queria fazer para o resto da minha vida e o que eu queria estudar", conta.
Embora a Nasa possa favorecer um astronauta mais experiente para a primeira missão tripulada, o perfil científico de Jessica Watkins deve ser considerado a seu favor no futuro. Para os astronautas, ter bom caráter e espírito de equipe também é crucial, já que os tripulantes passam muito tempo confinados em espaços minúsculos. Ela diz que seus familiares a consideram uma pessoa "fácil de lidar", e que aprendeu o valor do trabalho em equipe jogando rúgbi.
Segundo Jessica, o senso de exploração e o desejo de continuar expandindo os limites do que os seres humanos são capazes são o que unem os astronautas. Desde muito jovem, sonhava em viajar para o espaço e manteve essa esperança sem pensar que isso poderia realmente acontecer um dia. “Você nunca sabe quando seus sonhos se tornarão realidade. Sou muito grata àqueles que vieram antes de mim, as mulheres e os astronautas negros que abriram o caminho para eu estar aqui hoje”, conclui. (Com informações da AFP)
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