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Marte: Perseverance, da Nasa, encontra rochas que podem revelar se havia vida no planeta

As amostras apresentam sinais de contato com água no passado e, segundo cientistas, podem conter matéria orgânica em seu interior

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Por Redação

O trabalho do Perseverance em Marte já está dando frutos: o rover está selecionando amostras de rochas da cratera de Jazero para enviar à Terra. As rochas parecem ter sido alteradas pela água e os cientistas acreditam que podem abrigar matéria orgânica, o que seria um indicador da existência de vida no passado. 

As últimas descobertas do robô da Nasa, agência espacial americana, são descritas em quatro artigos publicados nas revistas Science e Science Advances. Os estudos abrangem os primeiros 250 dias da missão do Perseverance na base da cratera de Jezero, que rendeu "resultados muito importantes", como encontrar rochas ígneas (magmáticas) e com alterações causadas por interação com água, conta Juan Manuel Madariaga, da Universidade do País Basco (UPV/EHU), que assina dois dos artigos. 

Rover Perserverance:As descobertas também podem ajudar a construir uma linha do tempo da história geológica de Marte. Foto: NASA/JPL-Caltech/MSSS

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Essas rochas podem ser a chave para encontrar sinais de que houve vida em Marte no passado. Desde fevereiro de 2021, o Perseverance estuda a cratera, que fica ao norte do equador de Marte e foi formada pelo impacto de um superbólito (nome dado a um meteoro acompanhado de uma bola de fogo muito brilhante). Segundo os cientistas, a presença de rios que atravessavam a parede da cratera a teriam transformado em um lago e, algum tempo depois, ainda não se sabe quanto, teriam sido registrados elementos de vulcanismo. 

Uma das pesquisas em que Madariaga trabalhou estudou a alteração das rochas pela água. Nelas, foram encontrados sais cuja presença em ambientes ígneos só pode ser constatada porque "em algum momento estiveram em contato com a água, não podem ser produzidos de outra forma". O cientista indica que “neste momento, este tipo de rocha e o que contém no seu interior são muito bons candidatos a abrigar matéria orgânica que pode ser um indicador de que houve vida", mas são análises que o Perseverance não consegue realizar sozinho.

Em sua jornada, o robô seleciona amostras para serem enviadas à Terra em uma missão da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA), que chegariam em 2033 para serem analisadas em laboratório. As descobertas do rover também podem ajudar a construir uma linha do tempo da história geológica de Marte, e os pesquisadores viram coisas que não esperavam. 

A base de Jezero tem uma composição diferente do que foi encontrado em outras áreas adjacentes e os cientistas buscam entender o que causou essas diferenças. A hipótese inicial era que seriam encontradas rochas sedimentares na cratera, já que se tratava de um lago, mas as rochas identificadas são de origem vulcânica. A equipe acredita que a ausência de rochas sedimentares se deve à forte erosão causada pelo vento, combinada com o intemperismo químico (decomposição dos minerais que formam as rochas). 

Graças ao instrumento Meda (Mars Environmental Dynamics Analyzer), um aparelho para análises ambientais do Centro Espanhol de Astrobiologia (CAB) que está a bordo do Perseverance, descobriu-se que os ventos da região são muito mais fortes do que em outros locais, e os sinais de erosão das rochas magmáticas indicam que elas estão expostas a ambientes externos há muito tempo. Sua idade só poderá ser determinada quando forem examinadas na Terra, mas sabe-se que são mais antigas do que a formação da cratera, que ocorreu há cerca de 2 bilhões de anos.

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Os pesquisadores consideram duas hipóteses sobre a origem dessas rochas: que foram resultado de eventos vulcânicos na cratera ou que foram geradas por fluxos de lava externos que entraram nela. As rochas vulcânicas, explica Madariaga, têm basicamente três componentes minerais: olivinas, piroxênios e feldspatos. A proporção dos diferentes componentes em cada uma e sua natureza química depende das características do magma que as formou. Nas rochas analisadas, as que vêm da parte mais alta da base da cratera têm uma quantidade quase desprezível de olivina e podem ter se formado no subsolo e resfriado lentamente, diferentemente das encontradas abaixo. (EFE, com tradução de Raisa Toledo, especial para o Estadão)

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