Com o objetivo de testar defesas contra ameaças à Terra, a Nasa, agência espacial americana, iniciou nesta segunda-feira, 26, mais uma fase da missão Dart (em inglês: Teste de Redirecionamento de Duplo Asteroide), que pretende mudar a trajetória de um corpo celeste capaz de causar problemas ao planeta no futuro. Uma aeronave viajou a cerca de seis quilômetros por segundo em direção ao meteoro Dimorphos, pequena lua de 160 metros de diâmetro que ronda o Sistema Solar, e colidiu com o mesmo para mudar sua órbita.
O resultado do impacto, ocorrido às 20h14 no horário de Brasília, com transmissão ao vivo no canal da agência no YouTube, será medido por telescópios. O objetivo da missão é testar métodos de defesa planetária contra corpos celestes que possam representar uma ameaça à humanidade - no caso da Dart, a meta é redirecionar o alvo.
A missão
Com uma hora restando para a colisão, a NASA atualizou que a rota do Dimorphos estava estável e que eles tinham uma visão clara do asteroide. Na casa de 47 minutos até o impacto, o objeto teve o alvo travado em si. A Dart chegou a distancia de 7 mil milhas (cerca de 11 mil quilômetros) quando faltavam 30 minutos, com imagem, dados e sistemas estáveis.
Restando 21 minutos, a agência já podia focar apenas no traqueamento da espaçonave até a Dimorphos, pois a precisão também estava travada, a 4,5 mil milhas (7,24 mil km).
A quatro minutos do impacto, a Dart já estava a apenas 100 milhas (160 km) do asteroide, e às 20h14 no horário de Brasília, como previsto, a nave colidiu com o objeto.
”Nós temos impacto!’” anunciou Elena Adams, do Controle da Missão à agência de notícias AP, no momento em que o objetivo foi alcançado. “Estamos embarcando em uma nova era da humanidade”, disse Lori Glaze, diretora da divisão de ciência planetária da NASA. Apesar do sucesso e a empolgação da agência, é possível que ainda leve semanas para coletar os resultados e determinar o quanto a órbita do asteroide foi modificada.
A proximidade com a Terra permitirá que especialistas em defesa planetária meçam o impacto. A escolha da data foi proposital, pois a cada 770 dias, o Didymos, sistema onde o Dimorphos está localizado, fica a 11 milhões de quilômetros de nós.
Em 2024, a nave Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), visitará o aglomerado para analisar a colisão com mais detalhes. A missão utiliza elementos de energia cinética e será avaliada também sua capacidade de repetição para que seja estabelecida como uma técnica sólida.
O alvo da Nasa nunca teve risco de causar um “armaggedon” em si. No entanto, são conhecidos atualmente cerca de 25 mil asteroides próximos ao planeta, em escala espacial, que representam ameaça, mesmo com chances baixas – e isso é somente 40% do que pode ser o número total.
Segundo a agência, o sucesso da missão é fundamental para traçar um plano estratégico e realizar testes também em outros corpos celestes. “Estamos trabalhando para adicionar mais rochas espaciais ao nosso catálogo e, enquanto isso, tentando descobrir como garantir que nenhuma atinja a Terra”, disse Thomas Zurbuchen, integrante da diretoria de missão científica da Nasa, no lançamento da operação, em 2021.
Além de combater possíveis “agentes do apocalipse”, a Dart também está focada em desenvolvimento de tecnologia autônoma. Na sonda, foram implementados algoritmos que permitem a viagem sem um operador. Em caso de sucesso e bons resultados, a exploração espacial evoluiria em comunicação – ou o descarte da mesma. Atualmente, as informações enviadas às naves pelo comando demoram algum tempo para que cheguem, o que não permite controle em “tempo real”.
Asteroide na Rússia
O ímpeto em acelerar o desenvolvimento de defesas planetárias foi impulsionado pela queda de um asteroide de 18 metros de diâmetro na cidade de Chelyabinsk, na Rússia, que gerou uma onda de choque e causou danos a seis municípios. A explosão feriu mais de 1600 pessoas e causou danos estimados em US$ 30 milhões (cerca de R$ 153,5 milhões).
Apesar do susto, impactos do tipo são comuns na história da Terra. Diariamente, objetos caem na atmosfera do planeta e são queimados pelas suas proteções naturais. O perigo real surge quando o corpo mede mais de 100 metros de diâmetro, pois esses têm mais chances de não se desintegrarem e são mais difíceis de detectar. De acordo com a Nasa, a entrada de meteoros e cometas do tipo ocorrem uma vez a cada 20 mil anos.
Asteroides maiores, como o responsável pela extinção dos dinossauros há quase 66 milhões de anos – com aproximadamente 10 quilômetros de diâmetro – são mais fáceis de serem notados com antecedência. No entanto, a técnica testada pela agência americana ainda não será suficiente para evitar um desastre global, mas sim danos locais.
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