Autor de 'Tempo de Despertar', neurologista britânico morre aos 82 anos

No início do ano, escritor revelou, em texto publicado no 'The New York Times', que estava com câncer no fígado em estado terminal

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e agências internacionais
Perto do fim:'Não posso fingir que não tenho medo', escreveu Foto: Andrea Mohin/The New York Times

Morreu ontem, aos 82 anos, o neurologista e escritor britânico Oliver Sacks, autor do best-seller Tempo de Despertar. O cientista, que anunciou no início do ano ter descoberto um câncer no fígado em estágio terminal, estava em sua residência, em Nova York, nos EUA, ao lado de amigos.

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Nascido em Londres, em 1933, Sacks mudou-se para os Estados Unidos em 1960 e dedicou sua carreira a pacientes com doenças raras do sistema nervoso. Muitas das condições observadas nos doentes se transformaram em livros, o que fez com que o cientista fosse chamado de “o poeta laureado da medicina”.

Uma das experiências clínicas ficou conhecida ao ser relatada em Tempo de Despertar, lançado em 1973. No livro, ele contou sua vivência com pacientes que sofriam de encefalite letárgica e saíam de seus estados catatônicos com a ajuda de um medicamento experimental administrado por Sacks. A história foi adaptada para o cinema, em 1990, em filme estrelado por Robin Williams e Robert DeNiro. A produção recebeu três indicações ao Oscar.

Em 1985, Sacks lançou O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu, sobre casos de pacientes que lutavam contra desordens neurológicas que mudavam totalmente suas percepções do mundo. Entre eles, havia doentes com perda de memória ou incapazes de reconhecer um objeto comum.

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Revelação. Em fevereiro, Sacks causou grande comoção ao revelar, em artigo publicado no jornal The New York Times, que um câncer raro no olho, diagnosticado e tratado há nove anos, havia se espalhado para o fígado e outros órgãos. No texto, Sacks deixava as lamentações de lado para demonstrar gratidão e definir prioridades para seus últimos meses de vida.

“Não posso fingir que não tenho medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Eu amei e fui amado; doei-me e muito me foi dado; eu li, viajei, pensei e escrevi. Acima de tudo, eu fui um ser humano ciente, um animal pensante, neste belo planeta, e só isso já foi um enorme privilégio e aventura”, escreveu. “Agora depende de mim escolher como quero viver os meses que me restam. Tenho de viver da maneira mais rica, profunda e produtiva que puder.”

Como planejava, o cientista conseguiu terminar um livro de memórias, batizado de Sempre em Movimento, lançado em abril. Na publicação, uma espécie de autobiografia, o neurologista conta sobre sua juventude, o período em que foi usuário de drogas e sua vida amorosa. Homossexual, Sacks chegou a ser chamado de “aberração” pela mãe.

Extremamente tímido, teve dificuldades para manter relacionamentos e disse ter ficado décadas celibatário. Últimos dias. Segundo comunicado publicado ontem em seu site oficial, o cientista passou seus últimos dias fazendo o que mais gostava: tocando piano, escrevendo para amigos, nadando e comendo salmão.

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Antes de sua morte, criou a Fundação Oliver Sacks, uma organização sem fins lucrativos voltada para aumentar o entendimento sobre a mente humana. A entidade terá como principais objetivos diminuir o estigma sobre as doenças mentais e neurológicas e difundir para o maior número de pessoas as obras de Sacks.

Após a morte do neurologista, a Universidade de Nova York, onde ele era professor, divulgou um comunicado em que lamenta o falecimento e ressalta que os “avanços de Sacks na neurologia e neuropsiquiatria levaram a importantes conhecimentos nesses campos”. / FABIANA CAMBRICOLI E AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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