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Nobel de Medicina: Saiba quais cientistas brasileiros já foram indicados ao prêmio

Pelo menos quatro pesquisadores brasileiros já estiveram entre os candidatos, mas ninguém do País foi agraciado com a homenagem até agora

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Por Sofia Lungui
Atualização:

Desde 1901, quando foi entregue o primeiro Nobel de Medicina, pelo menos quatro brasileiros foram indicados ao prêmio. Carlos Chagas, Adolfo Lutz, Antônio Cardoso Fontes e Manoel Dias de Abreu foram os cientistas que chegaram a ser candidatos à láurea ao longo de sua história. O Brasil, porém, ainda não foi contemplado.

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Anunciado nesta segunda-feira, 3, o prêmio foi concedido a Svante Pääbo, cientista responsável por estudos pioneiros sobre genética e evolução humana. A temporada do Nobel inicia sempre no começo de outubro. Nos próximos dias, serão divulgados os nomes dos vencedores dos demais prêmios - Física na terça-feira, Química na quarta-feira e Literatura na quinta-feira. O Nobel da Paz de 2022 será anunciado na sexta-feira. Por fim, a premiação de Economia será no dia 10 de outubro.

O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina é concedido a cientistas responsáveis pela inovação, des­coberta ou aperfeiçoamento que promova grandes benefícios à humanidade, mudando o paradigma científico. O processo de escolha dos candidatos tem diversas etapas: começa com a indicação de possíveis concorrentes por um grupo de pessoas qualificadas para tal. Vencedores anteriores do Nobel, professores universitários e legisladores, por exemplo, estão entre as pessoas elegíveis para enviar indicações.

Em seguida, eles são pré-selecionados pelo Comitê Nobel, que é formado por cinco membros e pelo secretário da Assembleia Nobel. Posteriormente, esses candidatos são avaliados por integrantes da assembleia e por revisores externos designados pe­lo comitê. Conforme essa avaliação, o comitê prepara uma lista de candidatos para a avaliação final da Assembleia Nobel no Instituto Karolinska, na Suécia.

A Assembleia tem 50 membros e a escolha do vencedor é definida por votação majoritária, sendo que a decisão é final e sem recurso. Os nomes dos candidatos não são imediatamente divulgados pela Fundação Nobel. Essa lista é guardada em segredo pelos organizadores por 50 anos.

O médico patologista e pesquisador José Eymard Homem Pittella trata, em artigo publicado na revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos, possíveis motivos que levaram os brasileiros indicados ao Nobel de Medicina a não terem sido contemplados. A partir da década de 1920, o prêmio passou a contemplar com mais frequência as descobertas sobre vitaminas, hormônios, metabolismo intermediário, fisiologia e neurobiologia, entre outras áreas de estudo.

“Nenhuma das contribuições dos brasileiros indicados esteve associada a essas áreas de vanguarda da pesquisa médico-científica”, argumentou o professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no estudo, intitulado “O banco de dados do Prêmio Nobel como indicador da internacionalização da ciência brasileira entre 1901 e 1966″ (2018).

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Cientistas brasileiros indicados ao longo da história do prêmio

Carlos Chagas (1879-1934)

Carlos Chagas foi indicado ao Nobel de Medicina duas vezes, em 1913 e 1921, sendo que foi o primeiro brasileiro a constar na lista de candidatos ao prêmio. O reconhecimento foi fruto de seus estudos sobre a malária e a doença de Chagas. Ele foi o único cientista a identificar todo o ciclo dessas doenças, levando em consideração parasita, vetor, hospedeiros e sintomas. O médico sanitarista foi responsável por associar a doença de Chagas à picada do inseto popularmente conhecido como “barbeiro”, que descobriu transmitir o protozoário Trypanosoma cruzi, desconhecido até então.

Importante pesquisador do início do século XX, Chagas se dedicou amplamente aos estudos de doenças tropicais. O cientista teve papel importante no combate à malária, sendo que liderou a primeira campanha bem-sucedida contra a doença no País. Chagas também foi figura de destaque no enfrentamento à gripe espanhola no Brasil.

Adolfo Lutz (1855-1940)

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Pioneiro da medicina tropical no Brasil, Adolfo Lutz foi indicado ao prêmio em 1938, resultado do conjunto de sua produção científica sobre diversas doenças. Lepra, febre amarela, tuberculose, malária, esporotricose e cólera são algumas das doenças que foram seus objetos de estudo. O cientista cumpriu importante papel no combate a epidemias no País.

Entre seus feitos, estão as descobertas em relação à transmissão da febre amarela, por exemplo. Lutz foi responsável pela comprovação da transmissão da doença por meio da picada do mosquito Aedes aegypti. O pesquisador também contribuiu amplamente no enfrentamento à epidemia de peste bubônica disseminada em Santos (SP) a partir de 1899.

Adolfo Lutz foi referência no combate a epidemias Foto: Instituto Oswaldo Cruz

Antônio Cardoso Fontes (1879-1943)

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Indicado ao Nobel de Medicina em 1934, Antônio Cardoso Fontes desenvolveu importantes estudos sobre a tuberculose, razão pela qual recebeu o destaque. Sua meta científica era provar a filtrabilidade do bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis) e a possível existência de formas filtráveis desse microrganismo. Esses experimentos foram realizados e sua tese foi comprovada.

No mesmo ano, foi nomeado diretor do Instituto Oswaldo Cruz, ocupando o lugar de Carlos Chagas após sua morte. O cientista foi fundador e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Tuberculose, a atual Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Fontes participou de diversos congressos e recebeu muitos prêmios por seu papel no enfrentamento à tuberculose.

Manoel Dias de Abreu (1891-1962)

Tornou-se um dos mais importantes nomes da Medicina no Brasil e no mundo. Manoel Dias de Abreu foi indicado ao Nobel de Medicina três vezes: em 1946, em 1951 e em 1953. Isso foi fruto de seu trabalho no desenvolvimento da abreugrafia, a introdução da fotografia de radiologia coletiva. Trata-se de um método rápido e acessível de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, o que permitiu avanços no diagnóstico e no tratamento da tuberculose. No dia 4 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Abreugrafia no Brasil.

Abreu lecionou radiologia em diversas instituições científicas no Brasil e no exterior. Além disso, o cientista deixou vasta literatura científica, importante legado para os estudos sobre radiodiagnóstico, radioscopia e radiogeometria.

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