O que fazer quando ficamos entediados? Entenda como isso mexe com nosso cérebro

Participantes de experimento optaram por levar choque e até mutilar larvas a ficar no “ócio”, mas também incentivou a prática de boas ações

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Por Richard Sima - The Washington Post
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Em um experimento realizado fora do Brasil, pessoas foram convidadas a sentar-se em silêncio por 15 minutos em uma sala com nada além de seus próprios pensamentos, com também a opção de apertar um botão e se dar um choque elétrico, o que parece desagradável, mas muitas preferiram isso ao desconforto emocional do tédio. Dos 42 participantes, quase metade optou por pressionar em algum momento. Um homem em específico optou fazer isso 190 vezes.

O ócio é um sentimento universalmente temido. Estar entediado significa querer se envolver quando você não pode. É o nosso cérebro nos dizendo para agir, assim como a dor é um sinal importante de perigo ou dano. Essa emoção, ou a falta dela, nos alerta de que as coisas não vão bem. Os cientistas que estudam os sentimentos observam que cada episódio do tipo cria uma oportunidade para fazer uma mudança positiva, em vez de procurar reativamente a fuga mais rápida e fácil. Só precisamos prestar atenção.

Emoções que mexem com o cérebro, mesmo que prejudiciais de alguma forma, se mostraram mais "bem-vindas" do que o tédio (Pixabay/magnetme) Foto: Pixabay/magnetme

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“O tédio é uma espécie de luz te alerta sobre estar no caminho errado”, disse Erin Westgate, psicóloga social da Universidade da Flórida, coautora do experimento de choque. “É este sinal de que o que quer que estejamos fazendo não é significativo para nós. Realmente necessário”. Em um estudo de 2021, ela e seus colegas descobriram que o tédio levou os participantes a comportamentos mais sádicos. Alguns, assistindo a um vídeo “chato” de 20 minutos, eram ainda mais propensos a fazer algo que presumivelmente nenhum deles havia considerado: triturar larvas chamadas Toto, Tifi e Kiki em um moedor de café. (Os pesquisadores as nomearam para humanizá-las.)

Entre 67 participantes que assistiram ao material, 12 deles (18%) jogaram uma larva no moedor de café. Em comparação, em outro grupo assistindo a um documentário interessante, apenas um dos 62 membros tentou destruir uma larva. Nenhum animal foi maltratado, pois a máquina de mutilação era falsa.

Outros experimentos mostraram uma ligação entre o tédio e diferentes tipos de mau comportamento, desde cyberbullying até mesmo na sala de aula e abuso verbal e físico por membros das forças armadas uns contra os outros. A boa notícia é que o tédio nem sempre nos torna mais maus - apenas nos chama a agir. Quando melhores alternativas estão disponíveis, o sentimento também pode nos fazer realizar boas ações.

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Em outro conjunto de experimentos envolvendo quase 2000 pessoas, Westgate e sua equipe pediram aos participantes que assistissem a um vídeo de cinco minutos de uma rocha ou a algo mais interessante. Todos tiveram a opção de reduzir o salário dos outros colegas, sem nenhum benefício para si mesmos. Imersos no tédio, os observadores da pedra foram muito mais propensos a cortar o pagamento do que aqueles que presenciaram algo menos tedioso. No entanto, quando os entediados tinham as duas opções - cortar o pagamento ou aumentá-lo, a esmagadora maioria das pessoas decidiu dar dinheiro.

Em suma, o tédio parece motivar a busca pela novidade, não pelo mal. A qualidade das opções importa: se você tiver uma distração, como um livro que deseja ler ou um hobby que sempre quis experimentar, pode estar mais inclinado a recorrer às boas ações do que levar choque ou mutilar larvas.

James Danckert, neurocientista cognitivo da Universidade de Waterloo, e seus colegas colocaram 10 adultos em um scanner cerebral de ressonância magnética e mediram sua atividade enquanto assistiam a um clipe do documentário Planet Earth, sobre a natureza, um vídeo de dois homens pendurando roupas ou um imagem estática.

Sentar-se silenciosamente dentro da máquina de ressonância magnética ou assistir ao vídeo da lavanderia ativava a rede de modo padrão do cérebro, uma região de regiões que fica ativa durante o pensamento interno, como quando nossa mente está “vagueando”. Ao mesmo tempo, o vídeo chato desligou o córtex insular anterior, que se acredita sinalizar que algo importante está acontecendo no mundo exterior. Em resumo, através de uma ressonância magnética, destacou-se que o cérebro entediado parece infeliz e desengajado.

É mais provável que fiquemos entediados no trabalho ou na escola - situações em que temos menos autonomia e menos opções para fazer algo a respeito. Em uma amostra de quase 4000 adultos americanos, 63% relataram sentir tédio pelo menos uma vez ao longo de 10 dias. O problema é que, embora o sentimento nos avise de que algo está errado, ele não diz o que fazer sobre. Encontrar maneiras saudáveis depende de nós.

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Quando a sensação inquietante nos atinge, é fácil ser reativo e reflexivamente alcançar a coisa mais próxima à mão: nossos smartphones. No entanto, tal reação pode desencadear um “ciclo vicioso”, segundo Danckert. O tempo no celular não é particularmente significativo, o que significa que você provavelmente ficará entediado novamente.

Em vez disso, é importante tente estar mais atento ao sinal que está sendo enviado. Uma oportunidade para redefinir, refletir ou reformular prioridades.

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